Enquanto Robert Mugabe permanece em prisão domiciliária na sequência de uma ação militar cujos autores hesitam apelidar de golpe de Estado, a vida política do Zimbabué avança à medida que começam as primeiras negociações para a formação de um governo de união nacional e de transição.
Segundo o jornal zimbabueano Newsday, já estão a acontecer negociações entre Morgan Tsvangirai, líder do MDC, o maior partido da oposição e que chegou a governar em coligação com Robert Mugabe entre 2008 e 2013; e o representante dos veteranos de guerra do Zimbabué, Christopher Mutsvangwa. Segundo o Newsday, estão ambos a encetar negociações para formar um governo de união nacional e de transição.
“Estamos felizes com aquilo que o exército fez, fizeram uma coisa boa”, reagiu o secretário-geral do MDC, Douglas Mwonzora, num debate transmitido em streaming nesta quarta-feira. As negociações também deverão incluir o ex-vice-presidente e autor moral do golpe militar, Emmerson Mnangagwa, que atualmente se encontra na África do Sul.
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O homem conhecido como “crocodilo” e antigo número dois de Robert Mugabe exilado naquele país desde 6 de novembro, dia em que foi demitido do cargo de vice-presidente e consequentemente afastado da posição de potencial sucessor de Robert Mugabe. Da mesma forma, a mulher do Presidente, Grace Mugabe, ficou mais próxima de suceder ao seu marido.
“O vice-presidente demonstrou consistente e persistentemente traços de personalidade de uma pessoa desleal, desrespeituosa, enganadora e não confiável”, disse o ministro da Informação, Simon Khaya Moyo, quando anunciou a demissão de Emmerson Mnangagwa.
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De acordo com o mesmo jornal, tanto Morgan Tsvangirai como Christopher Mutsvangwa se encontravam na África do Sul aquando do golpe militar que levou à “prisão domiciliária” de Robert Mugabe — o termo é do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, que disse ter falado com o líder do Zimbabué. Apesar de ter sido anunciada uma comunicação por parte de Robert Mugabe ao longo desta quarta-feira, o Presidente deposto do Zimbabué acabou por não falar.
O golpe militar desta quarta-feira é da responsabilidade das Forças de Defesa do Zimbabué, que até agora se têm recusado a assumir terem feito um golpe de Estado. Apesar de manterem Robert Mugabe na sua própria casa, os militares referem que o golpe militar não foi dirigido contra o líder histórico do ZANU-PF, mas sim contra os “criminosos” à sua volta.
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