A agência Fitch decidiu nesta sexta-feira levantar a notação de “alto risco” que atribuía a Portugal desde novembro de 2011, tal como tinha feito a S&P em setembro. A subida de rating foi, mesmo, de dois patamares: passou de BB+ para BBB (saltando por cima de BBB-). A perspetiva associada a esta notação de crédito é “estável”.
Com dois ratings positivos (além da DBRS), Portugal volta aos principais índices de obrigações, o que abre boas perspetivas para o investimento em dívida nacional, a juros mais baixos, o que chega em boa hora porque o BCE está a reduzir gradualmente os ritmos de compra de dívida no mercado.
A informação foi confirmada em comunicado enviado pela agência de rating divulgada esta sexta-feira, 15 de dezembro.
Eis algumas das principais ideias transmitidas pela agência:
- Há uma perspetiva de descida do rácio de dívida pública de mais de três pontos percentuais este ano, para menos de 127% do PIB, antecipa a agência de rating. “A análise da Fitch é de que a trajetória da dívida está numa trajetória de descida firme e que a redução vai continuar no médio-prazo”.
- Na opinião da Fitch, a dinâmica favorável na dívida deve-se a três fatores: “reformas estruturais anteriores, recuperação económica cíclica e melhoria significativa nas condições de financiamento“.
- O saldo da conta corrente será positivo este ano pelo quinto ano consecutivo, apesar do aumento da procura interna. Isso deve-se, diz a Fitch, às melhorias estruturais no campo da competitividade externa.
- Para o maior otimismo da Fitch contribuíram, também, a “melhoria significativa” nas contas públicas, graças ao aumento da receita fiscal; a “forte recuperação cíclica” na economia; as recapitalizações da Caixa e do BCP e a venda [da maioria do capital] do Novo Banco, a par da redução dos valores de crédito em incumprimento; e, finalmente, a melhoria das condições de financiamento que, muito graças às compras do BCE, estão a permitir ao Tesouro financiar-se a juros cada vez mais baixos e prazos cada vez mais alongados.
A notícia da saída de lixo já era esperada pelos analistas e pelos investidores em dívida pública, ainda que poucos tivessem falado de uma subida de dois níveis — uma boa notícia adicional para o país, ainda que o mais importante fosse mesmo a passagem para um patamar acima da fronteira entre “investimento de alto risco” e “investimento de qualidade”.
Há várias semanas os investidores antecipavam que a Fitch iria tomar a mesma decisão que outra das três grandes agências — a S&P. Graças a essa expectativa, Portugal tem gozado de condições cada vez mais favoráveis no mercado de dívida nos últimos meses, com muitos investidores mais ágeis a comprarem a preços mais favoráveis na expectativa de, com a confirmação da notícia, vender a investidores mais passivos mais caro.
Com a ascensão de Portugal a “grau de investimento” na segunda grande agência (a DBRS é mais pequena), as obrigações do Tesouro português voltam a constar de vários índices importantes de obrigações. Muitos investidores investem não em emitentes específicos mas em índices (da mesma forma que se compram ações de um país, ou, sobretudo, deste ou daquele setor de atividade). Os títulos são comprados seguindo a ponderação de um índice e, portanto, se a dívida portuguesa volta a constar desses índices isso leva a que vários investidores tenham obrigatoriamente de comprar os títulos, pela simples razão de terem de acompanhar o índice.
Cada índice tem a sua metodologia: para alguns bastará haver um rating de qualidade para estar no índice (desde que seja de uma destas três principais agências) mas para os principais é necessário duas agências, pelo menos, com rating positivo — S&P e Fitch, já chegam, portanto.