O número de mortos nos protestos que estão a abalar o Irão ultrapassou os 20, de acordo com relatos dos media e redes sociais iranianas. A televisão estatal iraniana avançou com a informação de que houve mais nove vítimas mortais em resultado das manifestações que prosseguiram esta segunda-feira à noite.
Este é o balanço provisório de uma onda de protestos na rua que dura já há cinco dias. A estação pública do país adianta que entre as vítimas estão um rapaz de 11 anos e um membro da guarda revolucionária do Irão. Há ainda relatos de 450 detidos só na capital. As piores manifestações desde 2009 já provocaram um sobressalto no preço do petróleo que teve o arranque anual mais forte desde 2014. O Irão é o segundo maior produtor da OPEP (organização dos países produtores de petróleo).
Os manifestantes começaram por contestar o aumento dos preços e o desemprego, mas agora desafiam já de forma aberta o regime, o presidente Rouhani e até o líder religioso Ayatollah Ali Khamenei. O líder supremo do Irão já reagiu acusando as potências estrangeiras de estarem por trás dos protestos.
Líder supremo acusa “inimigos” do Irão de estarem por detrás dos protestos
As forças de segurança do Estado conseguiram impedir que “manifestantes armados” tomassem de assalto esquadras de polícia e bases militares, segundo a AP. Houve também ataques a edifícios estatais e bancos.
O Irão já avisou este domingo que os manifestantes “pagarão o preço” pelos protestos, depois de uma nova noite de manifestações contra o poder no país, onde duas pessoas foram mortas e dezenas de outras foram detidas.
“Aqueles que destroem a propriedade pública, criam desordem e agem ilegalmente devem responder pelas suas ações e pagar o preço. Agiremos contra a violência”, afirmou o ministro do Interior iraniano, Abdolreza Rahmani Fazli no domingo. Também o presidente iraniano, Hassan Rouhani, deixou o aviso.
“O Governo não vai ter qualquer tolerância para com os que danifiquem a propriedade pública, violem a ordem pública e provoquem alarme social”.
O Governo já respondeu a uma das reivindicações iniciais, deixando cair o anunciado aumento do preço dos combustíveis. No entanto, as autoridades limitaram o acesso à internet, em particular à aplicação de mensagens Telegram e ao Instagram, numa tentativa de travar o uso das redes sociais na propagação da onda de contestação ao regime iraniano que já mereceu comentários encorajadores por parte do presidente americano Donald Trump e do líder israelita, Benjamim Netanyahu.
Vídeos colocados nas redes sociais mostram intensos confrontos entre protestantes e forças de segurança na cidade de Qahderijan quando os primeiros tentavam ocupar um posto policial que terá sido parcialmente destruído. Noutra cidade, Najafabad, um manifestante abriu fogo sobre polícias, matando um e ferindo três.
Ontem foi o quinto dia de protestos no Irão, naquela que já é considerada a maior onda de contestação desde 2009, quando a reeleição do conservador Mahmoud Ahmadinejad levou milhares às ruas, um movimento que foi duramente reprimido pelas autoridades. Desta vez, o alvo dos protestos é também o líder supremo religioso Ayatollah Ali Khamenei que substituiu o pai da revolução iraniana, Ayatollah Khomenei, em 1989. Ouviram-se gritos: “Morte ao ditador” e pedidos de mudança do regime.
Os protestos terão provocado já a detenção de centenas de pessoas. Só em Teerão, foram detidas cerca de 450 pessoas e haverá centenas de detidos em outras cidades. O presidente do tribunal revolucionário iraniano, Musa Ghazanfarabadi, já avisou que estes presos vão enfrentar um castigo duro. Já o governador da província de Teerão assegura que a situação na capital está sob o controlo.
Um vídeo online mostra a polícia a disparar canhões de água sobre os manifestantes na capital do país Teerão. A contestação nas ruas começou na segunda cidade iraniana, Mashhad, perto da fronteira com o Afeganistão, na quinta-feira passada. Mas já alastrou a várias regiões do país, como a província de Esfahan, a sul de Teerão, e à própria capital.
O pretexto foi o aumento do custo de vida, mas também a subida do desemprego e a corrupção na administração iraniana. Como pano de fundo destes protestos, estão as dificuldades económicas vividas pela camada mais jovem da população, em resultado das sanções internacionais ao Irão. Apesar do acordo nuclear obtido ainda durante a presidência de Obama, a ameaça de Trump de reverter este compromisso tem afastado os investidores internacionais da economia do país.
Ao mesmo tempo, e apesar das dificuldades da economia, o Irão não tem poupado esforços para apoiar financeiramente movimentos em conflitos na Síria e Médio Oriente, numa tentativa para se posicionar como potência regional face ao poder da Arábia Saudita.