É um excerto de uma intervenção de Santana Lopes quando era comentador semanal na CMTV, e as palavras são sugestivas: Santana Lopes está sentado no estúdio da estação televisiva a dizer que, se concorresse a primeiro-ministro, depois do que aconteceu em 2004 e 2005, não teria qualquer hipóteses de ganhar eleições. Santana não tinha “dúvidas nenhumas disso”. Mais: “Nem que o vento mudasse 10 vezes”.
[Veja aqui os vídeos antigos que perseguem Santana. E a reacção dele]
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Parece o novo “nem que Cristo desça à Terra”, já que o vento parece ter mudado mais de dez vezes e Santana é hoje candidato à presidência do PSD — o que fará dele, se ganhar, candidato a primeiro-ministro. Ao Observador, a candidatura de Santana Lopes não quis fazer qualquer declaração sobre o conteúdo do vídeo, e o diretor de campanha de Rui Rio, embora tenha confirmado que conhecia as imagens “há muito tempo”, negou estar a utilizá-las. Pelo menos em “páginas oficiais”.
Eu, por exemplo, acho que, também depois do que passei, em 2004, 2005, depois do que aconteceu, com mais culpa minha ou não, acho que se concorresse a primeiro-ministro não tinha possibilidades de ganhar as eleições. Não tenho dúvida nenhuma sobre isso, nem que o vento mudasse 10 vezes. Portanto, procuro olhar-me ao espelho e acho que os outros, de vez em quando, deviam fazer o mesmo”, ouve-se Santana dizer no excerto que está a ser partilhado em páginas informais de apoio a Rui Rio no Facebook.
https://www.facebook.com/RioEstamosContigo/videos/163571054260562/
O excerto, segundo apurou o Observador, foi retirado de um comentário de Santana transmitido no dia 21 de outubro de 2013. O tema central da intervenção era sobre as eventuais ambições presidenciais de José Sócrates, que na altura ainda não estava envolvido em qualquer processo judicial. Santana comentava uma entrevista dada por Sócrates ao jornal Expresso e argumentava contra a hipótese de o ex-primeiro-ministro socialista vir a concorrer nas eleições presidenciais que seriam dali a três anos. Daí ter aconselhado os outros a olharem-se ao espelho “de vez em quando”, como ele próprio faz. O vídeo original, na íntegra, pode ser visto aqui.
O vídeo começou a ser divulgado na segunda-feira à noite no Facebook, por via de páginas informais de apoio a Rui Rio. É o caso da página Rio, Estamos Contigo, que se intitula como “uma página de jovens de todo o país que apoiam Rui Rio para presidente do PSD”, ou da página Maia Com Rui Rio, que se identifica apenas como uma página de “organização política” do concelho da Maia, no Porto. Não são páginas oficiais da candidatura de Rui Rio, como fez questão de sublinhar o diretor de campanha Salvador Malheiro quando questionado pelo Observador. Salvador Malheiro confirma conhecer o vídeo — “já o vimos há muito tempo” –, mas rejeita estar a utilizá-lo para fazer campanha. Pelo menos através das vias oficiais.
“Nas páginas oficiais não estamos a divulgar esse tipo de material, nem nunca iremos divulgar, não iremos baixar o nível”, disse o diretor de campanha de Rio ao Observador, admitindo no entanto que não pode impedir que outras pessoas o façam. “Não podemos impedir que outras pessoas a título individual, ou de grupos, o façam”, disse.
Certo é que, quando o vídeo foi partilhado pela página de jovens que apoiam Rui Rio, depressa um utilizador intitulado “Mario Ramos” procurou chamar a atenção de várias páginas ligadas ao PSD, incluindo as páginas oficiais da candidatura de Rui Rio. Em nenhuma dessas, contudo, o vídeo apareceu replicado.
Ainda esta segunda-feira, em entrevista à SIC, Rui Rio voltou a usar o argumento de que não iria “baixar o nível do debate”, mesmo que o adversário o tenha feito no debate da RTP. “Quanto às trapalhadas, podia ter dito duas ou três. Mas ia dizer todas? E ele rebatia? Acha que era bonito?”, disse.
E mais: disse que também ele, como Santana Lopes, tinha “recortes” de jornal do adversário, nomeadamente um com Santana a dizer “que ele era melhor presidente para o partido já no tempo de Passos Coelho”. Usando, sem usar, Rio voltou a dizer que não utilizou o recorte, “nem o levou para o debate”, por uma questão de manter o frente a frente ao nível das ideias para o futuro e não dos ataques sobre o passado.
Questionada pelo Observador sobre o conhecimento do vídeo e o conteúdo das declarações, a candidatura de Santana Lopes disse apenas não ter “nada a acrescentar”.
*Artigo atualizado com a publicação do vídeo original, na íntegra, do comentário de Santana Lopes na CMTV.