Rui Rio acabou de ganhar o partido, mas os seus mais próximos já antecipam cenários caso venha a perder as legislativas de 2019. David Justino, ex-ministro da Educação de Durão Barroso e ex-assessor de Cavaco Silva, foi o coordenador da moção estratégica que o novo líder do PSD vai apresentar ao congresso de fevereiro, e não tem dúvidas de que o PSD tem de estar preparado para segurar um líder que perde eleições. Em entrevista à Antena 1, David Justino elogiou a postura “sensata” de Rui Rio de baixar as expectativas, porque um político tem de “admitir que pode não ganhar”. Ou seja, equacionar cenários de derrota a dois anos das eleições, não faz mal.
“O PSD tem de estar sempre preparado para a inovação política e para as maneiras de pensar”, começou por dizer David Justino, para depois a jornalista Maria Flor Pedroso perguntar se isso implica também o PSD ter de estar preparado para segurar o líder que não ganhe eleições. “Porque não? Eu sei que a história tem um peso, mas não é nenhum determinismo. Se é necessário lutar contra a aquilo que foi a historia, luta-se. Não podemos é estar condenados a uma espécie de determinismo político de dizer que quem perde tem de se ir embora, não necessariamente. Se a estratégia está bem construída, e o desempenho foi bom… não se pode achar que o adversário não tem mérito”, explicou, sublinhando que a estratégia desenhada por Rui Rio está pensada para “muito mais” do que apenas os dois anos formais para os quais o líder partidário é eleito.
Na reta final da campanha interna, Rui Rio foi o primeiro a lançar o tema dos eventuais cenários de derrota pós-eleitoral, dizendo com todas as letras que viabilizaria um governo PS caso os socialistas ganhassem as eleições sem maioria absoluta. Tudo para evitar que o PS se voltasse a virar novamente para a “esquerda radical”. Esta estratégia tem sido muito criticada, mas David Justino defende que é “sensata”. “O dr. Rui Rio faz uma coisa que é não criar ilusões, o que não deixa de ser uma posição sensata. Não vale a pena estarmos a reproduzir chavões e truques da atividade política como seja não admitir que se pode não ganhar”, defendeu.
Ao Público, David Justino já tinha admitido admitiu que a moção estratégica global que orientou para a candidatura de Rui Rio à liderança do partido esteve para ser intitulada de “Portugal 2030”, numa lógica semelhante à do horizonte dos apoios comunitários, que se chama, atualmente, Portugal 2020. A questão é que a estratégia é ampla: “A moção que coordenei não aponta exclusivamente para os próximos dois anos, aponta para a próxima década“, disse à Antena 1, admitindo que também António Costa seguiu essa prática quando se candidatou à liderança do PS com uma “agenda para a década”. “Não vale a pena construir uma moção para dois anos se não tivermos em conta o que queremos para Portugal para os próximos 10 ou 15 anos”, defendeu, insistindo que “a meta não é o dr. Rui Rio ou o PSD, a meta é saber que tipo de país queremos para Portugal daqui a 10 ou 20 anos”.
Sobre a questão polémica da liderança da bancada parlamentar, ou da oposição interna que se pode vir a criar dentro do partido encabeçada por aqueles que foram apoiantes de Pedro Santana Lopes, David Justino recusou a ideia de “vassouradas” e sublinhou a ideia de união interna como necessária para o PSD vir a ter um bom desempenho eleitoral. Mas com uma condição: só se une quem quer ser unido, os que não querem estar dentro, então são oposição.
“A prática tem revelado que qualquer novo líder tem de unir o partido para se apresentar perante os eleitores, e não deve consumir-se em conflitos internos. Portanto, nessa lógica, todos têm lugar”, começou por dizer. “Mas unir para deixar ficar tudo na mesma não vale a pena. E unir para quem não quer ser unido, também não vale a pena”, sublinhou. “Tem de haver da parte do líder a vontade de unir, e da parte dos que são liderados a vontade de integrar essa união, se não houver vontade, então há que considerá-los como alguém que não quer ser unido e que quer ter um caminho próprio”, disse ainda, deixando um recado: “Estaremos atentos a isso, como é natural”.