A dois dias do congresso do PSD, o homem que faz a gestão da “geringonça” no terreno escreveu um artigo de opinião onde deixa um aviso para os tempos mais recentes e outro a apontar para eventuais combates futuros. Pedro Nuno Santos começa por sublinhar, à porta do congresso que entroniza Rui Rio como o novo líder social-democrata, que o PS “deixou de estar obrigado a governar com a direita”. Depois, também critica a uma moção particular, das 20 que vão a debate neste congresso.

A começar por Rio: o aviso de um dos maiores defensores da atual solução governativa surge depois de o novo líder do PSD ter assumido, na campanha interna, estar disponível para apoiar um governo minoritário do PS. No artigo de opinião que escreveu no Público esta quinta-feira, Pedro Nuno Santos nunca refere esta abertura da nova liderança social-democrata, mas traça o caminho que quer ver trilhado pelo seu próprio partido nesta matéria. “Este Governo e esta maioria estão a mostrar que é possível viver melhor em Portugal e a imprimir mudanças profundas nas políticas públicas”, escreve, para logo a seguir acrescentar que o PS também ganhou com ela: “Aumentou a sua autonomia estratégica. Não está impedido de procurar compromissos alargados em áreas específicas (como as de soberania), mas deixou de estar obrigado a governar com a direita”.

E, neste distanciamento que pretende marcar face ao novo PSD, ainda atira à “pressão para o consenso entre os grandes partidos dos sistemas políticos” e em como ela resultou num “paradigma de reformas estruturais, que se impôs como programa de instituições nacionais e internacionais na defesa da radical privatização de empresas e serviços públicos, liberalização de mercados (a começar pelo laboral) e desregulação generalizada de atividades económicas”. Pedro Nuno Santos defende o resgate de “conceitos fundamentais para a esquerda” que acusa a “direita neoliberal” de se ter apropriado. Caso do termo “reformas”, que para o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares “têm de voltar a significar o que sempre significaram para nós: progresso social, concretização de direitos e aumento de bem-estar”.

Mas a parte mais curiosa do artigo de opinião deste socialista é a que remete para o futuro. Pedro Nuno Santos é apontado, dentro do PS, como uma das figuras com pretensão de ascender à liderança do partido (algures no pós-costismo) e entre as 20 moções temáticas que vão a discussão neste congresso do PSD, escolheu uma para criticar: a subscrita por Pedro Duarte e Carlos Moedas. Ambos nomes que, dentro do PSD, são também vistos como possíveis soluções para liderar o partido no longo prazo.

No artigo entitulado “Os desafios da social-democracia”, Pedro Nuno Santos diz que há uma moção que “arrisca apontar um caminho: ‘Combater a Desigualdade’, subscrita por Pedro Duarte e Carlos Moedas”, dizendo que o texto “tem o mérito de elencar preocupações legítimas e desafios essenciais a que todos teremos de responder”. Mas logo de seguida diz que o caminho que é apontado está “assente em contradições insanáveis, coloca em causa avanços civilizacionais em nome de soluções falsamente inovadoras e/ou mágicas”.

Na moção, os sociais-democratas questionam a progressividade fiscal e admitem a criação de um rendimento básico universal. Pedro Nuno Santos defende a progressividade, que “não serve só para redistribuir dinheiro: pelo nexo de deveres que impõem e direitos que financiam, os impostos ajudam a construir a comunidade política”, diz. E considera que o rendimento básico “reduziria a dinâmica de reciprocidade de que vive uma comunidade e produziria uma sociedade atomizada”. Aliás, o socialista ataca mesmo as duas ideias, dizendo que “é o velho liberalismo económico renovado e intensificado”.

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