Não, muito obrigado. É desta forma que Catarina Martins responde à disponibilidade já demonstrada por Rui Rio para dialogar com todos os partidos em matérias tão centrais como o novo quadro de apoio comunitário e o dossiê da descentralização. Numa altura em que socialistas e sociais-democratas vão ensaiando os primeiros passos dessa valsa, a coordenadora bloquista foi taxativa: “O Bloco de Esquerda não sente qualquer necessidade desse diálogo“.

Na conferência de imprensa que marcou o arranque das jornadas parlamentares do Bloco de Esquerda no distrito de Leiria, Catarina Martins descartou qualquer tipo de conversação com os sociais-democratas e fez marcação cerrada aos socialistas: António Costa terá de levar em conta as propostas do Bloco de Esquerda em matéria de investimento público e romper de vez com os princípios que têm norteado a aplicação dos fundos comunitários, pediu a bloquista, para quem as decisões tomadas em quadros comunitários anteriores são reflexos do “monopólio do Bloco Central“, que tem servido apenas para alimentar “interesses particulares e setores privilegiados da economia”.

Mesmo com António Costa a jurar a pés juntos que toda e qualquer negociação passará sempre pelos parceiros que compõem a atual maioria parlamentar, o desconforto à esquerda com a reaproximação entre PS e PSD já é evidente. Ainda para mais numa semana em que acontecem as primeiras reuniões de trabalho entre socialistas e sociais-democratas: os ministros Eduardo Cabrita e Pedro Marques, da Administração Interna e do Planeamento e Infraestruturas, respetivamente, vão reunir Álvaro Amaro e Manuel Castro Almeida, dois homens do núcleo duro de Rui Rio.

Perante as movimentações políticas que se vão fazendo, Catarina Martins fez questão de deixar um aviso à navegação socialista: “Se um acordo à esquerda permitiu uma recuperação de salários e pensões, algum crescimento económico e criação de emprego também só um acordo que seja com a esquerda pode permitir opções de investimento público que combatam os problemas estruturais da economia portuguesa, nomeadamente combatam os setores rentistas, o endividamento externo, a assimetria do território e o défice social que tem o nosso país”. Uma aliança entre PS e PSD, insistiu a bloquista, perpetuará a lógica de bloco central de interesses e clientelas.

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Aliás, ao longo da sua intervenção, a coordenadora do Bloco de Esquerda fez questão de repetir várias vezes que “não há Orçamento do Estado sem investimento público e não há Portugal 2030 sem investimento”. A determinada altura, Catarina Martins chegou mesmo a dizer que “não há gavetas separadas”. Desafiada a esclarecer se isso significava que o Bloco de Esquerda fazia depender a aprovação do Orçamento do Estado para 2019 das negociações em matéria de investimento, a bloquista resistiu. “Temos ficado aquém. Esperemos que se possa fazer mais”, rematou Catarina Martins.

Os bloquistas iniciaram o primeiro dia de jornadas parlamentares com uma viagem de comboio entre Torres Vedras e Caldas da Rainha. O objetivo era denunciar a falta de investimento na ferrovia e recomendar ao Governo socialista que aposte na requalificação integral da linha ferroviária do Oeste, revendo a proposta atual que só prevê a requalificação de 20% da linha.

As críticas do Bloco de Esquerda à falta de investimento no setor ferroviário têm sido, de resto, uma constante desde o início da legislatura. Neste momento, sabe-se que apenas 15% das obras prometidas pelo Governo para a ferrovia estão em curso e que permanecem por resolver muitos problemas estruturais nas linhas de comboio — também por isso Catarina Martins não deixou de notar que o deputado bloquista Jorge Falcato não pôde seguir na viagem porque o comboio onde seguiu a comitiva não tem acesso para deficientes motores.

Ferrovia. Governo deixou programa de investimento na gaveta