É pela Rua de São Pedro de Alcântara, em Lisboa, que milhares de pessoas circulam diariamente entre o Príncipe Real e o Bairro Alto. Turistas e lisboetas não deixam de tirar uma foto no Miradouro, nem de visitar o Museu de São Roque. No caminho, todas passavam ao lado de um tesouro chamado Convento de São Pedro de Alcântara, que apenas se abria esporadicamente a alguns grupos. Mas isso mudou esta semana. A Santa Casa da Misericórdia decidiu abrir, pela primeira vez, a construção do século XVII ao público em geral.

Na igreja, construída em 1681, sobressaem os altares em talha dourada com iconografia franciscana e pinturas da época joanina vindas do Convento de Mafra no período do pós-terramoto de 1755, nomeadamente “A Coroação da Virgem”, do pintor francês Pierre Antoine Quillard e “A Pregação de S. João Baptista”, de Pedro Alexandrino de Carvalho, provavelmente encomendados pelo rei D. João V. A igreja não tem órgão. Foi levado para a igreja de São Roque em 1843.

5 fotos

Em 1870 foram feitas obras de restauro. É daí que resulta o teto, pintado em trompe l’oeil pelo pintor francês Pierre Bordes em 1878, e um desafio para os olhos. No altar-mor, de influência rococó em talha dourada, sobressai a pintura “O Extâse”, de São Pedro de Alcântara, do séc. XVII, atribuída ao pintor Bento Coelho da Silveira.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Nas paredes da igreja encontram-se painéis de azulejos do século XVIII, em moldura de efeito barroco, que representam cenas da vida de São Pedro de Alcântara. Para além de estarem em excelente estado de conservação, trata-se do conjunto mais completo em Portugal sobre a vida do santo.

4 fotos

Longe da vista fica a roda dos expostos, onde no passado as pessoas deixavam as crianças anonimamente a cargo das misericórdias, e o Parlatório, construído já no século XIX, ou as esculturas que relatam a morte de São Francisco de Assis. As camaratas do piso de cima também estão encerradas às visitas livres. É por isso que as visitas guiadas aos fins de semana são aconselháveis. Durante cerca de uma hora, é possível ver e saber mais sobre a história e o património do Convento, a troco de 2,50 euros.

Um Convento em honra da independência de Portugal face a Espanha

A construção do templo, dedicado ao santo castelhano São Pedro de Alcântara, remonta ao século XVII, anterior ao terramoto de 1755. Quase 100 anos antes, em 1665, o primeiro marquês de Marialva e conde de Cantanhede fez um voto de fundar um Convento dedicado a São Pedro de Alcântara, caso os portugueses vencessem os espanhóis na Batalha de Montes Claros, pela independência de Portugal. Ainda hoje, sob a capela, estão as ossadas dos vários Marqueses de Marialva que ali foram sendo sepultados ao longo da história.

O terramoto abalou o Convento, o que levou a obras de restauro. Foi-lhe acrescentado mais um piso, paredes mais altas e uma sala superior, projetada por Manuel da Maia, que passou a permitir a entrada de luz natural.

Mas a “joia da coroa” do Convento é a Capela dos Lencastres, construída em 1690 ao lado da igreja e que se mantém original, por não ter sido atingida pelo terramoto. Foi construída em memória de D. Veríssimo de Lencastre, Cardeal de Lisboa, e é lá que continua sepultado.

As paredes estão decoradas com mármores embutidos de influência italiana, de várias cores. Apenas o teto está pintado com frescos da época áurea do brutesco nacional, de finais do século XVII. Foi Francisco Pais quem o pintou. No altar, originalmente dedicado aos mártires de Lisboa – Veríssimo, Máxima e Júlia – podem admirar-se colunas em mármore típicas do barroco italiano. No centro do altar, o brasão de armas de D. Veríssimo salta à vista.

3 fotos

O Convento de São Pedro de Alcântara foi entregue à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, por decreto de D. Pedro, Duque de Bragança, ex-imperador do Brasil, a 31 de Dezembro de 1833, devido à Extinção das Ordens Religiosas decretada pelos Liberais. Nas últimas décadas foi ocupado pela Comunidade Religiosa Feminina da Congregação de Maria, que recolhia jovens carenciadas.

Na visita que o Observador fez em abril, ainda não estava prevista a abertura ao público e o destino a dar a alguns espaços ainda estava a ser equacionado. O centro documental já abriu, mas a hipótese de abrir um restaurante, cafetarias, lojas e salas para conferências ainda está a ser estudada.

3 fotos

Horários:

Visitas livres Outubro a Março: de terça-feira a domingo, das 10h00 às 18h00. Segunda-feira das 14h00 às 18h00
Abril a Setembro: terça-feira a domingo, das 10h00 às 19h00. Segunda-feira das 14h00 às 19h00. Quinta-feira das 10h00 às 20h00.

Visitas guiadas Sexta-feira: 11h30 em francês, 15h00 em inglês
Sábado: 15h00 e 16h30 em português
Duram cerca de uma hora, podem ser agendadas em vários idiomas e integram também o Coro-alto, com vista privilegiada sobre a capela, e a Sacristia. O preço dos bilhetes é de 2,50 euros por pessoa. Máximo de 20 pessoas por grupo.