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Tsipras ganha a aposta e volta com partido e mandato renovado

Se fosse um jogo de poker, a manobra de Tsipras seria o equivalente a um "all in". Alexis apostou as fichas todas e, ao contrário de Samaras em janeiro, vence as eleições e ganha um novo partido.

Uma grande vitória, uma vitória clara. Foi assim que Alexis Tsipras celebrou a vitória do Syriza nas segundas eleições deste ano e depois de muitas sondagens apontarem até ao fim um empate técnico com a Nova Democracia, de Evangelos Meimarakis. Tsipras arriscou quando pediu demissão. O resultado parece ter-lhe dado razão.

Quando há exatamente um mês o primeiro-ministro grego anunciou a sua demissão e pediu eleições antecipadas, trouxe à memória a aposta de Antonis Samaras, o primeiro-ministro pela Nova Democracia, em dezembro passado. O resultado para Samaras foi destruidor: o Syriza, um partido que nunca tinha vencido as eleições, ficou muito perto da maioria absoluta.

Em agosto, Alexis Tsipras fez uma aposta semelhante. Queria ser legitimado nas urnas, depois de falhar quase todos os seus compromissos eleitorais. Não rejeitou o resgate, até aceitou um novo e com medidas mais duras. O referendo que convocou, e onde pediu um não ao programa, acabou por ser desrespeitado. Os controlos de capitais que se viu forçado a aplicar para evitar que os bancos gregos falissem ainda perduram. O Syriza começou a partir-se.

Com a Nova Democracia sem um líder definido, com o seu partido a implodir e com as novas medidas do resgate ainda sem se sentirem, Alexis Tsipras fez a sua aposta e os resultados nas urnas parecem ter-lhe dado razão. Face às eleições de janeiro, o Syriza perde apenas quatro deputados, ficando a seis da maioria absoluta, e a coligação com os Gregos Independentes era anunciada ainda antes do discurso de vitória.

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Tsipras festeja com Panos Kammenos dos Gregos Independentes, pouco depois de anunciar nova coligação.

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Legitimidade para governar

A primeira vitória de Tsipras é a sua legitimação. O Alexis Tsipras que venceu em janeiro a fazer campanha contra o resgate e de luta com os credores, deu lugar a um Alexis Tsipras de legitimação do resgate e com uma campanha para cumprir o programa dos credores, que tanto rejeitou e que os gregos usaram para dar vitória ao Syriza.

Depois de várias sondagens a darem um empate técnico com a Nova Democracia, liderada interinamente por Evangelos Meimarakis, o Syriza consegue uma vitória apenas ligeiramente menor que a alcançada em janeiro. Alexis Tsipras tinha garantido que não se coligaria com a Nova Democracia, sempre rejeitou os centristas do To Potami, e acaba mesmo por não precisar de o fazer.

Apesar de todas as reviravoltas de Tsipras em relação às suas promessas, os gregos acabam por lhe dar mais quatro anos e a liderança do Governo. A Nova Democracia não só não ganha, como até fica com menos um deputado.

A limpeza do partido

Se estas eleições serviam para dar uma nova legitimação a Alexis Tsipras como primeiro-ministro depois das profundas mudanças nas suas promessas, também o eram para lhe dar legitimidade como líder do Syriza.

A aceitação do terceiro resgate, em especial depois do referendo, caiu muito mal dentro do Syriza e as divisões foram profundas. Começaram com uma imediata remodelação governamental: saiu o mediático ex-ministro das Finanças Yanis Varoufakis, logo no dia seguinte ao referendo em que venceu o Não. Saiu também o ministro da Energia, Panagiotis Lafazanis, que admitiu ter um plano secreto para tirar a Grécia do euro com contornos rocambolescos que envolviam até a prisão do governador do banco central.

Lafazanis, assim como o ex-ministro do Trabalho, votaram contra as medidas do resgate no Parlamento (Varoufakis fê-lo em algumas ocasiões, mas não em todas), e acabou por sair, levando consigo 25 deputados, para formar um novo partido. Era a saída da ala mais radical, a Plataforma de Esquerda, e a certeza de um partido mais ao centro.

O novo partido de Panangiotis Lafazanis falhou a eleição para o Parlamento grego.

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Tsipras disse publicamente que queria eliminar o radicalismo do partido, que considerava inconsequente, e acabou por perder a também mediática Zoe Konstantopoulou, quem passou a ver como adversária quando esta, na qualidade de presidente do Parlamento, usou todos os expedientes que os seus poderes lhe davam para tentar evitar a votação das medidas do resgate. O resultado? Três votações madrugada dentro, mas as medidas foram aprovadas na mesma com o apoio dos partidos que Tsipras mais rejeita: Nova Democracia, PASOK e To Potami.

Agora, Tsipras vai para o Parlamento com um bancada parlamentar completamente renovada, sem os membros mais radicais no Parlamento, mas também fora da direção do seu partido. O Unidade Popular,  o novo partido de Lafazanis e com o qual Konstantopoulou concorreu coligada, nem conseguiu os 3% necessários para ter deputados no Parlamento.

Na oposição pouco muda

A Nova Democracia, a quem davam um empate com o Syriza, chega ao final com praticamente o mesmo número de deputados que alcançou em janeiro. O partido de Evangelos Meimarakis até perde um deputado: em vez de 76, fica agora com 75. A percentagem de votos é também quase a mesma.

O segundo lugar das eleições, desta vez de forma mais destacada, vai para o partido de extrema-direita Aurora Dourada. Mesmo depois dos escândalos e das investigações judiciais, o partido ganha força.

O Aurora Dourada ganha um deputado face às eleições de janeiro, e passa a 18, com mais votos principalmente nas ilhas, devido ao fluxo elevado de refugiados que receberam nos últimos meses. Nas eleições anteriores tinham tantos deputados como o To Potami, agora ficam com mais um que o quarto lugar, o PASOK, que parece recuperar alguma da força que perdeu, com mais quatro deputados.

O grande derrotado, entre os mais pequenos, parece ter sido o partido centrista To Potami, ou O Rio numa tradução literal. O partido de Stavros Theodorakis perdeu seis deputados face às eleições de janeiro, as primeiras em que concorreu e fica com 11, mais um apenas que os Gregos Independentes, que voltam a formar Governo em coligação com Tsipras, mas que perderam também três deputados.

A surpresa destas eleições, para além da vantagem de Tsipras, foi a União dos Centristas. Vassilis Leventis, líder do partido, procurava esta vitória há 14 eleições legislativas. Conseguiu ser eleito e eleger mais oito deputados à 15ª tentativa, entrando assim pela primeira vez no Parlamento grego. Leventis conduziu durante os anos 90 um popular talk show noturno na televisão grega onde denunciava casos de corrupção e avisava sobre a crise que estava para vir. A sua popularidade cresceu neste último ano entre os eleitores com menos de 30 anos. Um dos principais objetivos do seu partido é que a Grécia reconstrua a sua credibilidade externa para pôr fim à crise e ao controlo da troika.

A Unidade Popular, composta por dissidentes da ala mais à esquerda do Syriza e de quem muito se esperava, nem conseguiu chegar ao Parlamento, tendo uma das maiores derrotas destas eleições, já que fizeram campanha contra o resgate e estavam convencidos que conseguiriam captar os eleitores cansados da austeridade que elegeram o Syriza em janeiro.

Abstenção recorde

Não é novidade uma abstenção elevada, mas os resultados deste domingo espelham e muito o desalento dos gregos. Se antes de a crise ser mais profunda, a Grécia conseguia que a abstenção não chegasse aos 25%, tal como aconteceu em 2004 (23,4%), a verdade é que à medida que a crise se aprofundava, também eram menos os gregos que compareciam para cumprir o seu dever cívico.

Este domingo, os eleitores do país onde nasceu a Democracia mostraram-se pouco motivados para fazer cumprir um dos seus pilares fundamentais. Com 90% dos votos contados, mais de 43% dos eleitores gregos registados não votaram.

O resultado é especialmente alto e ultrapassa pela primeira vez, pelo menos em dez anos (com seis eleições) a barreira dos 40%. Em 2009, a abstenção foi de 29,08%, em maio de 2012 de 34,9%, em junho de 2012 de 37,58% e em janeiro deste ano 36,38%.

Tsipras, o novo amigo da Europa

Ao contrário do que aconteceu há dois meses, quando o não no referendo sobre o terceiro resgate apanhou a Europa desprevenida e levou vários líderes europeus a apontarem o dedo a Tsipras, esta noite o líder grego recebeu mensagens de parabéns pela sua vitória. À esquerda e à direita, um pouco por toda a Europa, chegaram a Atenas missivas de parabéns para Alexis Tsipras. Um dos primeiros líderes europeus a reconhecer a vitória do Syriza foi François Hollande, Presidente francês, dizendo que este resultado é “importante” para a Grécia e que agora o país terá “um período de estabilidade com uma maioria sólida”. O socialista foi um dos principais apoios de Alexis Tsipras durante a maratona de negociações com Bruxelas que se derenrolou durante o verão e anunciou este domingo que irá “brevemente” a Atenas.

Outro socialista, Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, fez uma mudança de 180º face ao que disse em Julho. Substituiu palavras como “drama” ou “crise humanitária”, por um telefonema cordial e lembrando numa mensagem no Twitter, a importância de a Grécia encontrar uma solução rápida para o seu Governo. Ainda na área da esquerda europeia, também Jeroen Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo e ministro das Finanças da Holanda, deu os parabéns a Tsipras, desejando que o país tenha um Governo “forte” para “continuar o processo de reformas”. Este nem parece o mesmo Dijsselbloem que manteve um duro braço de ferro com Yanis Varoufakis durante meses, com trocas de acusações mútuas e quase agressões físicas.

Já Manfred Weber, presidente do grupo do Partido Popular Europeu no Parlamento Europeu, não felicitou o líder do Syriza, mas escreveu na sua conta de Twitter que com o resultado das eleições “os acordos da Grécia com os credores continuam completamente válidos”, assim como pediu a Tsipras que cooperasse com outros partidos democráticos na Grécia.

O Syriza parece assim ter entrado no mainstream da política europeia, provando que uma vitória da extrema-esquerda na Grécia já não causa pânico em Bruxelas. Alexis Tsipras, depois da coligação com os Gregos Independentes estar fechada, deverá já representar o país no próximo Conselho Europeu, que acontece na quarta-feira. A questão central desta reunião de emergência será a crise dos refugiados, na qual a Grécia tem um papel muito relevante, já que é um dos principais países de acolhimento e um dos pontos de entrada dos refugiados no espaço europeu.

Os desafios mais imediatos

O dificuldade que se antevia para formar Governo foram dissipadas quase de imediato. Com 50% dos votos contados e com uma vitória expressiva, o partido de Alexis Tsipras anunciou uma coligação com os Gregos Independentes. Panos Kammenos subiu mesmo ao palco com o líder do Syriza, assim que Tsipras acabou de fazer o discurso de vitória.

No futuro imediato, alguns desafios sobressaem:

  • O resgate – Alexis Tsipras tem pela frente mais um duro resgate, o terceiro. Os credores comprometeram-se a emprestar mais 86 mil milhões de euros à Grécia, mas em troca exigiram duras medidas, que se juntam às medidas dos últimos dois resgates que a troika tem vindo a exigir desde maio de 2010.
  • A dívida pública – O Syriza tem insistido desde o primeiro momento que a dívida pública grega, superior a 170% do PIB mesmo com uma reestruturação já feita em 2012, e os credores sempre o rejeitaram. Mas a posição mudou. O FMI disse que não entra num terceiro resgate sem mais um alívio de dívida, porque a dívida não é sustentável, e os credores europeus já admitem falar sobre o tema, mas só depois de o resgate ser concluído. As negociações prosseguem, sem resultado à vista.
  • Os bancos – O impacto imediato da incerteza, especialmente depois da convocação do referendo no início de julho, foi o encerramento temporário dos bancos. Com a reabertura dos bancos, os controlos de capitais não foram embora, apesar de terem sido aliviados, precisamente porque a sangria nos depósitos dos bancos criou grandes vulnerabilidades. Os bancos terão de ser recapitalizados e antes de janeiro, já que entram em vigor novas regras que impõem perdas aos credores dos bancos em caso de recapitalização pública que, em última análise, impõem perdas aos depósitos acima de 100 mil euros, algo que os credores prometeram que não iria acontecer. Os bancos têm ainda de resolver a questão da sua dependência de financiamento de emergência do banco central grego, que devia ser de muito curto prazo e já perdura em elevados valores há vários meses.
  • Confiança do mercado – Com a turbulência que veio com a oposição do Syriza ao resgate e a sua eleição em janeiro, veio também turbulência nos mercados. Mesmo com os 86 mil milhões de euros do novo resgate, cujo valor ainda não está completamente certo, a Grécia precisará de ir ao mercado para financiar pelo menos a dívida de curto prazo, que não tem conseguido melhor que 2,7% (na dívida a três meses), uma taxa de juro demasiado elevada.
  • Refugiados – Em 2015, entraram na Grécia 309 mil imigrantes, muitos deles vindos da Síria e com possibilidade de pedir o estatuto de refugiado. Perto de metade destas pessoas chegaram em julho e agosto e os principais pontos de chegada são as ilhas de Lesbos e Kos. No início o mês de setembro a Grécia pediu 700 milhões de euros à União Europeia para construir infraestruturas que sirvam de abrigo aos milhares de pessoas que chegam diariamente à sua costa. O presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, tem alertado para a importância de ajudar a Grécia a gerir a chegada dos refugiados, propondo quotas de realojamento partilhadas com os restantes Estados-membros.
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