Queridinha língua portuguesa,
És uma maravilhazinha. Adoro-te, adoro falar-te. Adoro-te um bocadinho menos quando tenho de escrever-te, porque não consigo esconder os meus errozinhos gramaticais tão facilmente. Mas é um desafiozinho constante, que mantem vivinha a minha cabecinha. Só há uma coisinha em ti de que nunca gostei: são os teus numerosos diminutivos e aumentativos.
Não é pouquinho comum ouvir algo como: “Ai, coitadinho, fiz-lhe uma canjinha, mas estava deitadinho na caminha, todo irritadinho comigo, e eu nunca lhe tinha feito uma canjinha tão boazinha”. Depois de ouvir isto, podem ouvir o somzinho da minha cabecinha a explodir.
Desde o primeiro dia em que a minha filhinha mais velha nasceu e logo toda a gente lhe pegou um sufixo –inha ao nome, os diminutivos deixaram-me sempre muito irritadinha. Escolhi o nome dela para que soasse forte e corajosa. Com -inha no fim, parecia apenas tolinha. Felizmente, cresceu para ser forte e corajosa, e o -inha caiu-lhe do nome. Mas durante os primeiros aninhos da vidinha da minha filhotinha, quase toda a gente lhe chamava um nome que não era o nome dela. Aprendi a lição, e a filhinha número dois recebeu um nome a que é muito mais difícil atrelar um -inha.
Os diminutivos e aumentativos podem, claro, dar muito jeitinho a quem não quiser estar sempre a usar “pequeno” ou “grande”, mas por amor de Deus, há tanta gente para quem parece que tudo é ou tudiiiiiinho ou tudÃO, com quase nada no meio que seja de um tamanho normal. Há alguma coisinha na facilidade com que se adiciona um -inho ou um -ão que deixa muita gente louca por sufixos. Avózinhas a falar com bebezinhos são as piores, mas até os taxistas mais rabugentinhos podem subitamente começar a utilizar -inhos, -itos, -arros, -azões, que os fazem parecer grandes bebezões.
E, desde que quase qualquer palavrita pode ser -inhozada ou -ãozada, incluindo não só nomes, mas adjectivos e pior, advérbios (uma coisinha que nunquinha vou entender), há uma montanha gigantesca para nós os estrangeirinhos subirmos, até chegarmos a ter um entendimentozão desta língua tão linda (noutros aspectos). Provavelmente, nunca haverá um estrangeirinho que saiba utilizar a palavrinha “obrigadinha” no sentido certo, ou que descubra quais os – inhos que não são iguais aos outros – inhos (há – inhos maiorzinhos do que outros – inhos, e um – inho pode ser mais pequenino do que um – ino, – ito, – zito, etc.). Pelo meu lado, nunca hei-de perceber se algo devia ser algo-zão, algo-zarro ou algo-achuchazão. Presumo que perceber as regras dos diminutivos e aumentativos é como essa coisinha de precisarmos de ouvir certos sons enquanto bebés, para sermos capazes de os ouvir … talvez tenha de nascer a falar a língua para perceber o tamanho de uma coisinha ou de uma coisona.
Sim, sei que é um desafio que nunquinha vou vencer. Sei que este duro coração britânico nunca se vai dobrar à ternura dos diminutivos. Tenho de me resignar a nunca passar por ser totalmente portuguesa, por que não consigo dizer “bom diazinho, fofiiiiinho de um queridinho!” a qualquer bebezinho que encontro (pelo menos sem ironia), e provavelmente nunca conseguirei descrever a chuva correctamente, como chuva, chuvinha, chuvisco, ou sei lá, chuvão, e assim as minhas explicações de tamanho, escala ou extensão permanecerão sempre demasiado vagas para serem úteis a alguénzinho.
Mas mesmo assim, adoro-te, linguazinha portuguesinha.
(traduzido do original inglês pela autora)
-ikins
Dear Portuguese language.
You are SO great. I love speaking you. I love writing you a tiddly bit less, because I can’t hide my grammatical mistakikins so easily, but that’s my struggle that I must deal with, and when I get you rightwighty in text form, the joy is unbound. There is one thingiwingy about you that I can’t stand, though, I’m truly ever so sorry. It’s your excessive use of diminutives and augmentatives.
It’s not uncommon to hear something like: Ai, sim, coitadinho, fiz-lhe uma canjinha, mas estava deitadinho na caminha, todo irritadinho comigo, e eu que nunquinha tinha-lhe feito uma canjinha tão boazinha.” followed shortly by my headikins explodywoding. Translation: “Ai, poor little thing, (though it was probably her husband she was talking about) I made him some chicken soupikins, but he was lyingywyingy downikins in his beddibyes, all pissed offy woffy with me, and I have neverywevery made him a soupikins so goodywoody”.
From the day my first daughterkins arrived, and her name had an -inha stuck on the end of it, Portuguese diminutives have got my ikkle baby goat. I chose her name because it sounds strong, forthright, brave and straightforward. With an -inha stuck on it, she instantly became a silly little thing. Luckily, she became strong, forthright, brave and straightforward, and the -inha fell off of its own accord, but for the first few years of her life, people all around me called my daughter something that wasn’t her name. I learned the lesson, and daughter number two got a name that was very hard to stick an -inha onto.
Diminutives and augmentatives can be quite usefullish, I suppose, if you don’t want to use “little” or “big” very often, but, dear god, some people seem to talk like everything is IKKLE or ‘NORMOUS with almost nothing in between. There’s something about the ease of use of -inhos e -ãos that makes some people suffix crazy. Grannikins talking to babywabies are the worst, but even the toughest, grumpiestwumpiest taxi driver can be prone to -ito-ise and -arro-ise, making them sound like big humungous babies.
And, since almost any wordikins can be inho-ised or ão-ised, including not just nouns, but adjectivekins and adverbiwerbs, there’s a huge gert normous hurdle for we foreignerdoodles to have to climb over in getting to grippiwippy with this otherwise wonderful language. There will probably never be a foreigner who will use the obrigadinho correctly, or discover how many ways in which not all inhos are equal (some inhos are bigger than other inhos. and is an inho bigger or smaller than an -ito, a -zito, an -ixa… and at the other end, will I ever work out if it should be a something-ão or a something-arro, or a something-achuchazão). I suspect it’s like the ability to hear certain sounds has to be learnt as a baby, or you may never be able to hear it… maybe you have to be born into a language to know how small a coisinha is or how big a cãozão is.
I know, it’s a battle I will never win. I know it’s my cold hard anglophone heart that is unbendable. I will have to resign myself to never sounding properly Portuguese, because I cannot bring myself to say hellozidoodle to any babywabies that come my waykins, and will probably never be able to describe the rain correctly as being rain, rain-inha, rain-isco or a big huge rain-ão, and so my descriptions of the size, scale or extent of things will remain too vague to be useful to anyone.
But, I still love you, Portuguesewesikins.