No sábado passado fui à Caminhada pela Vida. Um programa saudável: fisicamente porque se tratou de uma caminhada e psicologicamente porque usei o meu tempo ao serviço de um valor maior – a Vida.
A sociedade actual cada vez desafia mais a nossa inteligência. Se eu dissesse á minha avó que ia a uma caminhada para defender a vida, ela suporia que estaria a falar de exercício físico. Se lhe explicasse que defender a vida era defender o direito à vida, ela certamente pensaria que era uma manifestação contra ladrões e assassinos, isto é, aqueles que nos atacam e a quem a minha avó chamava os malandrões.
Hoje defender a vida quer dizer outras coisas:
Primeiro, que ainda há quem olhe para vida como um valor, mas também que hoje muitos pensam que a vida se pode descartar.
Segundo, que as nossas vidas são tão complicadas, stressantes e absorventes que se tornam por vezes insuportáveis de encarar, mas também que ainda há quem dê valor maior à sua vida e à dos outros.
Terceiro, que cresce a tendência do raciocínio destrutivo: a sociedade tem de permitir tudo o que pode acabar com o sofrimento quando está em causa a minha suposta felicidade, em vez de deixar que nasça o desejo e a criatividade de quem encara as dificuldades não como obstáculos, mas como oportunidades ou desafios.
Feito este resumo simples, diria que devemos enfrentar com muita coragem esta tendência destrutiva da sociedade. Para qualquer situação podemos ter sempre dois olhares: aprender, crescer e darmo-nos aos outros com a nossa circunstância, ou querer fugir dela, eliminá-la, fazendo de conta que não existe. Quem pensa que eliminar uma circunstância de grande dor na vida em vez de a aceitar, resolver ou integrar resolve alguma coisa, cai facilmente na depressão porque nem sempre é possível eliminar aquilo que a vida nos coloca no caminho; acolhe ideias de pena de morte para tirar do caminho aqueles que fizeram mal a si ou ao mundo; considera terminar uma gravidez em curso porque não tem meios de sustento nem condições familiares para acolher o próprio filho, aceita para si e para os seus um caminho de morte quando o sofrimento parece insuportável e a vida aparenta já não ser útil.
Lutar pela vida é afirmar que é vivendo que somos felizes. A felicidade é uma decisão que podemos tomar na nossa vida. Quem a toma, é feliz toda a vida, seja qual for a desgraça que lhe possa acontecer. Sei que muitos, ao lerem estas palavras pensam que falo de barriga cheia. E até podem ter razão. Há muitas desgraças no mundo que graças a Deus não tocaram a minha vida, mas também existem grandes desgostos, daqueles que deixam uma ferida aberta toda a vida, que infelizmente já tive. Não deixei de ser feliz nessas ocasiões. A felicidade pode às vezes ser vivida sem alegria, porque as circunstâncias secaram a nossa alegria. Mas estamos vivos, temos uma caminhada para fazer em família, em comunidade, por isso, mesmo quando não conseguimos sorrir, podemos ser felizes.
Não me parece razoável que só seja possível a quem sofre verdadeiros dramas falar sobre a possibilidade de ser feliz, por isso, fui à caminhada pela vida porque a vida vale a pena, e todos os que somos felizes temos o grande dever de dizer que acreditamos na vida e que rejeitamos com todas as nossas forças qualquer caminho que destrua a vida.
A felicidade existe sempre que nos dispomos a dar, a partilhar o fardo uns dos outros com soluções que queremos encontrar e implementar com o apoio dos nossos governantes.
Há um provérbio chinês que diz: quando o sábio aponta a lua, o tolo só vê o dedo. Na caminhada para a vida somos sábios. Pedimos aos nossos governantes para não serem os tolos.