O Orçamento que aí vem – já está visto, traga o que trouxer a fase da especialidade – não cria um emprego, não promove um investimento, não contém uma única ideia de futuro. Não incentiva as empresas, não promove a inovação, não estimula o risco. Não apoia os empreendedores, não estimula os jovens e prejudica os verdadeiros profissionais liberais.
Porquê? Porque não é preciso – em Portugal tudo está bem, perfeito, estável e ideal, sob o ponto de vista político e através do prisma sócio-económico. O que é preciso e desejável é, bem pelo contrário, descongelar. O Orçamento ampara e protege os funcionários públicos instalados, os sindicalistas profissionais e habilidosamente dá, com uma mão, um alívio de IRS às classes médias, que lhes tira de seguida, com a outra, através dos impostos indiretos.
Mais uma vez, empurra para a frente qualquer resolução de problemas estruturais e aumenta de forma despudorada o desequilíbrio das contas públicas ao aumentar irreversivelmente a despesa estrutural, sacrificando os custos intermédios e o investimento público.
A consequência lógica dos pressupostos orçamentais será conseguirmos um dia ter professores sem alunos e sem escolas, mas felizes e promovidos; será haver enfermeiros especialistas sem local para exercer a sua especialidade, conquanto satisfeitos; será dispormos de funcionários públicos sem público para servir nem local para os receber, apesar de descongelados.
Apesar de tudo isto, há quem saúde a desejável estabilidade fiscal — preparem-se para o que aí vem na especialidade! Mau grado o estado da arte, há quem aplauda a razoabilidade do cenário macroeconómico, mas receio bem que até esse seja demasiado otimista, sobretudo no que diz respeito ao crescimento económico.
A suprema ironia deste Orçamento é que ele só é possível graças aos pagamentos antecipados de dívida pública feitos designadamente ao FMI e que permitem uma poupança de juros superior a 300 milhões de euros, bem como a cerca de 160 milhões de euros de dividendos do Banco de Portugal! Pasme-se! No primeiro caso, temos o resultado direto de uma política que Catarina, Mortágua, Jerónimo, Galamba e Associados apodaram de “assassina” quando implementada pelo Governo anterior e, no segundo caso, uma confissão de que o Banco de Portugal está encostado às cordas e vê-se obrigado a ser generoso — quiçá imprudente — na produção de receitas extra para servir a gula gastadora da geringonça.
Chamar eleitoralista a este Orçamento é um elogio e um eufemismo. Este Orçamento é apenas a maior oportunidade perdida dos últimos 20 anos, mas os poucos que o têm sublinhado publicamente – como Daniel Bessa – foram sumariamente relegados para o grupo dos infantis que fazem rir António Costa. Felizmente já percebemos que Costa ri sempre e ri em qualquer circunstância. Ri porque esse é o melhor remédio, como diz o povo. É a máscara de quem sabe que enquanto conseguir ir enganando a maioria com manobras de curto prazo vai assegurando a sua sobrevivência.
É esta a superior estratégia de Costa: empurrar até ao próximo dia, até à próxima semana, até ao próximo desastre; de tática em tática, de salto em salto, de sorriso em sorriso, com os olhos sempre e só postos no futuro imediato.
Não subsiste a menor dúvida de que António Costa é um político hábil, talvez mesmo um habilidoso da política. Nesse domínio as suas vistas são largas e os seus horizontes distantes.
Não há qualquer incerteza quanto ao especial sucesso com que gere o garrote que tem vindo a fazer mirrar o PC de Jerónimo e o amplexo com que ao mesmo tempo aproxima, envolve e minimiza o Bloco de Catarina. Parabéns!
Nem existe nenhuma dúvida quando se trata de avaliar Costa em tudo o que diga respeito à economia, ao investimento e ao futuro sustentável do nosso País… nesse domínio impera o até amanhã, o tempo imediato, o impacto na manchete do dia seguinte ou o alinhamento do próximo telejornal.
Infelizmente para todos nós, no que ao essencial diz respeito, Costa não tem horizonte e as vistas são muito curtas.