Eu tive um Spectrum… há mais ou menos 25 anos.

Credo! Já passaram 25 anos.

Um dos meus melhores amigos, com quem eu brincava muito, esse malandro, tinha um Commodore Amiga. Alta tecnologia na altura, final dos anos 80 início dos 90. Disquetes! Disquetes cheiinhas de jogos.

Lembro-me que na altura fiquei muito aborrecido, para não dizer lixado, com os meus pais! Então vão comprar-me um computador com leitor de cassetes? O meu pai até foi radiotelegrafista quando cumpriu o serviço militar. Sensivelmente a meio dos anos 70 trabalhava com a chamada “tecnologia de ponta”. Portanto deveria ser uma pessoa mais sensível aos avanços da tecnologia e ter-me assim comprado qualquer coisa mais avançada… um computador com disquetes, diria eu. E não.

Acabou por me comprar um Spectrum. Na realidade eu nem precisava daquilo… vendi-lhe a ideia, estúpida por sinal, que era importantíssimo para a escola e, olha, nem para a escola nem para jogar. E lá ia eu para casa do Marinho jogar Arkanoid e Kick Off no seu Amiga. Que belas tardes!

E passados todos estes anos somos confrontados com o boom da indústria dos jogos. Passou a ser uma profissão credível, ambicionada e desejada… imagine-se dizer isto aos meus avós ou até mesmo aos meus pais há 25 anos. Hoje é normal para um miúdo de 17, 18 anos pensar em seguir uma carreira no desenvolvimento de jogos. Ir até para a Universidade e fazer um curso superior em “Games”. E começamos, talvez tarde, a ter ambiente mental para que isto aconteça.

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Há 25 anos o “jogo de computador” era visto como um opositor ao estudo e a um futuro promissor. Seria absoluta ignorância? Talvez sim, talvez não…

Hoje estamos exactamente perante um cenário contrário. A indústria dos jogos está bem e recomenda-se! Melhor: a indústria dos jogos está bem e precisa de gente! Melhor ainda: a indústria dos jogos ainda nem arrancou a sério e já se diz que o futuro é o “mobile”! “Games” para “mobile”. Imagine-se.

Li por aí que em 2020 a União Europeia vai deixar por preencher mais de 900 mil vagas na área das tecnologias e que só em Portugal serão cerca de 15 mil.

Eu, como designer de formação, olho para isto como uma oportunidade para designers e para a “malta da tecnologia”. Dou é por mim a questionar a recorrente “vaca fria” da velha e cada vez mais actual e pertinente guerra entre design e tecnologia. Estará o design cada vez mais tecnológico? Ou será a tecnologia que cada vez mais tem que integrar o design? E os “Games”? Serão o quê? Design? Tecnologia? Ou conteúdo? Sim alguém tem que “desenhar” a narrativa… Enfim! O que sei é que a Forbes estima que em 2017 o mercado dos jogos estará muito mais musculado e crescerá para 70 mil milhões de euros!

E dou comigo a pensar que há (apenas) 25 anos eu (só) tive um Spectrum, que tinha um fantástico leitor de cassetes. Mas não esqueço o Amiga do meu amigo Marinho!

Dean da Escola de Tecnologias, Artes e Comunicação na Universidade Europeia
carlos.rosa@europeia.pt