Confirma-se que entre os piores fóruns para se discutir o futuro do país estão os congressos partidários. É um contrassenso, porque devia ser aí que muitas políticas deviam começar a ser debatidas e a ganhar forma. E essa dificuldade em discutir o país é tanto maior quando mais instalado no poder está o partido que faz a sua reunião magna.
Este Congresso dito do Partido Socialista não foi excepção. E escrevo “dito do Partido Socialista” porque, na verdade, aquela reunião mais pareceu um congresso das esquerdas unidas, como aquele que há três anos se realizou na Aula Magna, em Lisboa. Mais do que discutir o partido, os desafios da governação e do exercício do poder, o que se fez ali foi consagrar e ovacionar a solução governativa que se encontrou há seis meses. Tudo, claro, devidamente acomodado na falta de espírito crítico geralmente encontrada neste tipo de reuniões de partidos que estão no poder, como os assobios a Francisco Assis o demonstraram – um partido que se respeita devia dar graças por ter entre os seus militantes personalidades com a coragem, a lealdade e a frontalidade de Assis, para quem teria sido mais cómodo assistir ao congresso no sofá de sua casa.
Quem, há meia dúzia de anos, dissesse que um congresso do PS haveria de ovacionar alguém que aconselha que se rasgue o Tratado Orçamental ou aplaudir a culpabilização da moeda única para os nossos problemas estruturais, seria rapidamente apelidado de louco. Mas foi isso que aconteceu, com a ironia acrescida de ter ali muitos dos que há cinco ou quinze anos aplaudiram com a mesma convicção a criação do Tratado Orçamental e a vitória que representou para o país a entrada no primeiro pelotão do euro, ainda por cima pela mão de um governo socialista.
Mas é assim o poder. Ele cala (quase) todas as vozes críticas, afasta o debate sobre caminhos e alternativas, transforma em mau o que ontem era óptimo. E vice-versa.
Do discurso de António Costa, demasiado longo (cerca de 60 minutos) e atabalhoado, sobram algumas bandeiras que vão, certamente, ser empunhadas mediaticamente nos próximos meses.
A primeira é a luta contra as sanções europeias a Portugal pelo incumprimento do défice do ano passado. Ninguém, no país, parece estar conformado com a justiça destas sanções depois de quatro anos de chumbo. Mas, está visto, não acontecendo elas, como se prevê, o Governo e os partidos que o suportam farão disto o símbolo de como batem o pé em Bruxelas e em Berlim e estará aqui o exemplo acabado de como deixámos de ser subservientes perante a Europa. Será pouco relevante que, olhando para trás, se constate que nenhum país alguma vez foi sancionado pelo incumprimento do défice e se a Europa está repleta de alguma coisa é de violações ao limite dos 3% (com ou sem razão, não interessa).
Temos depois a formação e educação. As Novas Oportunidades vão regressar com outro nome, o programa Qualifica. Nada contra, mas será que podíamos fazer uma avaliaçãozita do impacto que teve a atribuição de diplomas a dezenas de milhares na última década? Só para perceber onde acabam as boas intenções e começam os resultados efectivos das políticas.
Temos, por fim, a inovação, a indústria e o Startup Portugal. Sem dúvida que um dos caminhos é este. Se este governo conseguir replicar no país o que João Vasconcelos fez na capital com o Startup Lisboa, esse será um enorme avanço.
O que faltou explicar é como é que estas políticas de tendência liberal nos negócios convivem com a agenda restante do governo, capturada pelo PCP, Bloco de Esquerda e suas clientelas sindicais e corporativas. Mas isso não era matéria porque podia estragar a festa congressista. Tratava-se ali de celebrar a Geringonça. E isso foi conseguido em pleno. O país segue já amanhã.
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