Nós portistas estamos mal habituados. Muito mal habituados mesmo. Somos os adeptos portugueses mais mimados pelos resultados dos últimos trinta anos. Vimos o FC Porto ganhar tudo o que havia para vencer. Campeões da Europa (duas vezes), campeões do mundo (duas vezes), mais quatro competições europeias, muitos campeonatos, e cinco deles seguidos, e muitas taças. Nenhum outro adepto celebrou como nós. E a história do ‘sistema’ foi a maior mentira do futebol português, como demonstram as vitórias na Europa. Grande parte do país nunca conseguiu aceitar a hegemonia do Porto. Aliás, ao contrário do FC Porto, o Benfica e o Sporting quando são os melhores em Portugal, nada vencem na Europa.
Mas o domínio do FC Porto no futebol português acabou há três anos. Custa muito, mas é a verdade. Há, obviamente, mérito do Benfica e mais recentemente do Sporting. Luís Filipe Vieira deu estabilidade e uma liderança forte ao Benfica. Aposta nos treinadores certos, segura-os nos momentos difíceis, acerta nas contratações (todos os argentinos que chegam ao Benfica são bons, como acontecia no FC Porto até há uns anos), e apostam bem nos jogadores feitos no clube. O Renato Sanches, o Nelson Semedo, o Gonçalo Guedes são muito bons jogadores. E não aproveitaram o André Gomes, o Bernardo Silva e o João Cancelo, todos já na seleção.
O Sporting também está no caminho certo. Contratou um grande treinador, e uma boa equipa começa sempre no treinador. Jesus é polémico, diz muitos disparates, mas é muito bom treinador. As suas equipas jogam bem e ao ataque. Além disso, melhora a maioria dos seus jogadores. Uma prova de um grande treinador. O Sporting continua ainda a apostar na sua escola de jogadores, uma caso notável de sucesso, desde o Figo, o Quaresma, o Ronaldo, até aos mais recentes João Mário, William Carvalho e Gelson (que jogador), todos eles também na seleção.
Enquanto o Benfica e o Sporting andaram a organizar-se, o FC Porto meteu-se em aventuras. Contrataram-se treinadores errados. Ainda não consegui entender porque se mandou embora o Vítor Pereira, que ganhou dois campeonatos (e mais um como adjunto), para contratar o Paulo Fonseca. Mas as aquisições de jogadores durante os últimos três anos foram um verdadeiro desastre. O FC Porto acertava em cerca de 75% das contratações, e era visto como um exemplo na Europa. Desde há três anos, erra para aí em 80% das compras de novos jogadores. Há casos verdadeiramente inexplicáveis, como o Osvaldo (alguém se lembra dele?), o Angel (nunca vi um defesa esquerdo tão mau no FC Porto), o Adrien Lopez, o Marega, o Suk, e tantos outros. Parece que as contratações obedecem mais aos lucros dos intermediários e dos empresários do que aos interesses da equipa.
A verdade é que assistimos ao da equipa do último tricampeonato e da Liga Europa e, desde aí, não se construiu uma nova equipa. Perdemos o avanço que tínhamos sobre o Benfica e o Sporting. Não vale a pena culpar os outros, nem os árbitros. A responsabilidade é do FC Porto. Não soube gerir o sucesso. Agora está atrasado em relação ao Benfica e ao Sporting. Temos que ser realistas. A nossa equipa ainda não está ao nível das do Benfica e do Sporting.
Estamos no entanto no bom caminho. Temos uma equipa inexperiente, mas com jogadores novos e bons, e alguns portugueses e feitos no Porto. No jogo de ontem contra o Braga, sofri muito mas senti uma grande alegria a ver um jogador de 18 anos feito no Porto a marcar o golo da vitória. Vamos ter que saber sofrer e ter paciência. Não vale a pena falar em mudanças de treinador quando os resultados não são bons. Nem lamentar a inexperiência dos nossos jogadores. O problema foi o que se passou nos últimos três anos. Agora estamos no rumo certo. Se o FC Porto for paciente, podemos não ganhar este ano, mas ganharemos no próximo. Se não houver paciência, ficaremos muito tempo sem vencer.