Quando olhamos para o feito que é tirar uma fotografia à superfície de Plutão, a 5 mil milhões de km da Terra e comparamos com o feito que é prever o estado do PSI20 amanhã, a comparação parece completamente ridícula. O primeiro é um feito científico e tecnológico a todos os títulos admirável, conseguir meter um artefacto junto a um ponto do universo que há uns séculos nem se sonhava que existia. O segundo é “apenas” um pequeno fait divers, a previsão de um fenómeno associado um sistema humano. Então, porque é que o primeiro já foi feito e o segundo não? Não se pode dizer que seja por falta de dinheiro. Porque é que conseguimos chegar aos confins do sistema solar mas não prevemos um fenómeno económico?

Primeiro, há um erro comum: o de que a medição dos fenómenos económicos tem muitos anos. Isto é falso. Na verdade, só depois do surgimento e utilização massiva da internet se começou a ter evidências empíricas reais dos fenómenos em causa. Desde os primórdios da humanidade que o homem pôde olhar para o céu para ver o movimento dos corpos celestes, mas só desde o fim do séc. XX conseguiu observar os movimentos dos corpos económicos de forma análoga. Antes, só os movimentos da bolsa, que apareciam em número relevante, tinham este carácter mais científico, mas como não são um ponto isolado da economia, nunca se atingiram grandes resultados.

Depois, nem toda a Economia feita antes é para deitar no lixo, mas deve ser toda objecto de corroboração à luz dos novos dados empíricos decorrentes da enorme quantidade de dados que vamos tendo acesso com o advento do comércio electrónico. O que não presta vai ter que ir fora.

Dito isto, falemos de um ponto fundamental de toda a teoria económica que é o princípio da existência de equilíbrio, um conceito extremamente abstracto que nos permite construir modelos que nos dão as previsões. Este princípio basilar em toda a ciência (não apenas em Economia) é tão importante que podemos arriscar que um problema que não envolva equilíbrio, não possa ser solucionado. Ou o problema envolve um sistema que tende para o equilíbrio, ou oscila em torno dele, mas equilíbrio está lá sempre. É aquilo que permite meter um sinal de igual entre dois lados de uma equação. Por isso os físicos, por exemplo, primeiro estabelecem as condições nas quais se entende equilíbrio e depois é que montam o problema. Já os economistas fazem o contrário, primeiro montam o problema, assumem que existe equilíbrio e, dentro desta assunção, olham para os números que têm disponíveis. O problema com esta última abordagem, que funcionaria em grande parte dos sistemas naturais conhecidos, senão em quase todos, é que assunção não é válida, pelo menos da forma directa como é usada.

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E nós sabemos disso. Vamos trabalhar todos os dias para adicionar o nosso trabalho à economia e receber dinheiro em troca para comprar mais trabalho a outras pessoas. Portanto, o sistema que estamos a estudar está sempre em crescimento (tirando em raros períodos de deflação). E isto é o contrário de um sistema em equilíbrio. A principal base de sustentação de construção de modelos em Economia, na verdade, não existe. E há vários indícios dessa ausência de equilíbrio, desde a distribuição de riqueza à distribuição de acessos a sítios da internet.

Felizmente, há uma saída para este problema: o facto de a economia ser feita de trocas. E como é feita de trocas, ela não existe isolada em cada um de nós, ela existe apenas entre nós. É como estarmos em queda livre dentro de uma caixa, não sentimos a gravidade porque tudo dentro da caixa está também em queda livre. Nesse caso, dentro da caixa está tudo em equilíbrio, embora estejamos em queda livre, prestes a esmagarmo-nos no chão. Mas, como nós medimos tudo em dinheiro e o dinheiro não cresce por si (está fora da caixa!), não percebemos esse equilíbrio que existe lá dentro. E tudo isto começa a saber-se agora, que começamos a ter dados resultantes da utilização da internet em quantidade equivalente àquela que nos permite construir sondas que chegam a plutão.

Porque é que erram os economistas? Porque é mais complexo do que se pensava, mas o que interessa é que vão deixar de errar.

PhD em Física, Co-Fundador e Partner da Closer