Em 1916, o mundo conhecia o que era uma guerra mundial, que esteve na origem de milhões de mortes e feridos e de dois regimes totalitários, o comunismo e o nazismo, que, por sua vez, multiplicaram por muitos o número de vítimas.

Essa vacina, tal como a seguinte e ainda mais forte — a segunda guerra mundial –, parece não ter ensinado nada aos dirigentes e aos povos daqueles países que pretendem, hoje, ter uma palavra nos destinos do mundo.

Todas as expectativas estão viradas para as eleições presidenciais nos Estados Unidos, pois este país quer continuar a ter um papel decisivo nos destinos do mundo. E o que vemos? Dois candidatos que, talvez, nem sequer mereçam ser presidentes de câmara de uma qualquer vila provinciana norte-americana. A campanha eleitoral foi única pelos métodos baixos utilizados, dando uma imagem terrível de qualquer um dos candidatos à Casa Branca e não contribuindo para o aumento da credibilidade dessa superpotência no mundo.

Poder-me-ão dizer: mas tu não és norte-americano e, por isso, não tens direito a voto. É verdade, mas tenho direito a opinião, porque dessa eleição irá depender o meu futuro e os dos meus filhos, o nosso futuro. Não posso ficar indiferente ao perigo de o “botão nuclear” passar para as mãos de um populista louco ou de uma mentirosa sem cura.

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Além disso, seria interessante saber como é possível políticos da craveira de Trump ou Clinton chegarem a candidatos presidenciais num país democrático.

Parece-me que isso acontece porque o sistema político norte-americano em particular, e os sistemas políticos europeus, russo, brasileiro, etc., estão, em menor ou maior grau, podres, o que irá trazer sérios problemas num futuro próximo.

Não gostaria de comparar os batalhões treinados pela Igreja Universal do Reino de Deus no Brasil com as tropas de choque criadas pelos partidos de Mussolini ou Hitler ainda antes de chegarem ao poder nos seus países, mas as ideologias fanáticas e intolerantes que estão na base de todos eles a isso me obrigam. A este tipo de fanáticos podemos juntar os grupos nacionalistas russos, tolerados pelo Kremlin, que obrigam a encerrar exposições, a suspender espectáculos em nome da “pureza ideológica”, a combaterem na Ucrânia e na Síria.

Há alguma diferença substancial entre estes extremismos e o extremismo islâmico? Por enquanto, os primeiros ainda não recorrem às bombas, mas isso poderá ser uma questão de tempo, pois o processo começou. Por exemplo: qual a diferença entre um mercenário russo que vai matar para a Ucrânia ou para a Síria e um militante do Estado Islâmico? Nenhuma, a não ser que a nossa forma de pensar nos faça retroceder até à época das Cruzadas.

E o problema é que o nacionalismo, o segregacionismo e o racismo e a exclusividade nacional são alimentados pelos mais altos dirigentes políticos. Donald Trump, por enquanto, a nível de discursos; Vladimir Putin, na vida real. No dia 4 de Novembro, o Presidente russo, acompanhado do Patriarca Ortodoxo Kirill, inaugurou em Moscovo uma estátua ao príncipe Vladimir I, o homem que baptizou a Rus de Kiev no século IX. Porquê agora? Porque Putin quer mostrar que a Rússia é a única herdeira da Rus e que a Ucrânia não tem direito a existir como Estado independente.

Penso que não será muito interessante assistir ao duelo entre Putin e Trump se este vencer as eleições. O Kremlin torce por Trump, mas pode ter uma desagradável surpresa, como já aconteceu aos soviéticos com Ronald Reagan. Se for eleita Hillary Clinton, as relações entre Moscovo e Washington estarão longe de serem normais.

E a Europa? Continua em declínio apressado e o acordo secreto entre o Presidente francês François Hollande e a Comissão Europeia, que isentava a França do cumprimento das metas do défice apenas faz aumentar os receios de que o sonho da unidade europeia está cada vez mais próximo de se transformar num pesadelo.

Escusado será dizer, que este tipo de política de Hollande contribui para o reforço das posições da Frente Nacional de Marine Le Pen e do seu financiador: Vladimir Putin.