Seguro jogou pingue-pongue com uma bola cor-de-laranja. Rangel falou de um “vírus socialista” e Manuel Alegre reagiu comparando a frase ao discurso do partido nazi. À direita ataca-se Sócrates. À esquerda pede-se cartão vermelho para o Governo de Passos e Portas. Por cá, a política europeia tem ficado de fora da campanha para as eleições europeias do próximo domingo. Mas em Espanha, Itália, França e no Reino Unido a Europa também não tem estado muito presente nos discursos dos candidatos ao Parlamento Europeu (PE).

Em Espanha, quer o jornal El País quer o Mundo fazem esta quarta-feira manchete com um caso que está a marcar a campanha desde o final da semana passada. O cabeça de lista do Partido Popular espanhol ao PE, Miguel Arias Cañete, disse na sexta-feira, durante uma entrevista a um programa de televisão, que “debater com uma mulher é difícil. Se mostras superioridade intelectual ou a encurralas, és machista”. A mulher a quem se refere é Elena Valenciano, a candidata do PSOE. Segundo o jornal El Mundo, a frase de Cañete foi a forma encontrada por este para justificar o que muitos consideram uma derrota do conservador espanhol no debate entre os dois candidatos.

O País e o Mundo escrevem esta quarta-feira que Cañete pediu desculpa “se ofendeu alguém”, admitiu que foi um momento infeliz e assegurou não ser machista, dizendo que a sua trajetória o comprova.

Segundo o jornal El País, os comentários de Cañete geraram revolta junto dos partidos social-democratas europeus cujos representantes acusaram a campanha do PSOE o candidato e Rajoy de “sexistas” e machistas”.

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O presidente do Parlamento Europeu e candidato social-democrata à presidência da Comissão Europeia, Martin Schulz, escreveu terça-feira no twitter: “Amanhã vou a Espanha apoiar a minha companheira Elena Valenciano e o PSOE. Os comentários machistas de Cañete sao inaceitáveis”.

O presidente dos socialistas e democratas no PE, Hanes Swoboda, disse que “Rajoy e Cañete são machos ignorantes. Nós os progressistas lutam pela igualdade”.

Em Portugal, o PS também condenou, no twitter, as declarações do candidato do PP.

A capa da edição impressa do Corriere della Sera desta quarta-feira chama para manchete o apelo ao voto nas eleições europeias feito pelo presidente italiano Giorgio Napolitano. “Votem, risco de populismo”, pode ler-se. Napolitano está a referir-se à possibilidade de Beppe Grillo ter um lugar de destaque nas eleições europeias. No início de maio, as sondagens davam 30-34% das intenções de voto para o Partido Democrático (PD), do primeiro-ministro Matteo Renzi e logo atrás surgia o Movimento 5 Estrelas (M5S), de Beppe Grillo, com 25-27% das intenções de voto. O partido de Berlusconi, Força Itália, surge como terceira força política com 18-21.

Em fevereiro os grillini deram início a uma campanha de destabilização no seio da vida política italiana, numa antecipação da campanha eleitoral. Houve tentativas de ocupar o Parlamento, insultos e agressões a deputados.

Grillo, que no início do ano prometeu agitar a União Europeia ao vencer as eleições para o PE, tem uma visão muito crítica da Europa, defendendo que a burocracia europeia nunca beneficiou a Itália e que o euro favorece os grandes bancos à custa dos pequenos investidores. O candidato já propôs a realização de um referendo popular para decidir a continuação da Itália no euro.

No mesmo jornal, um artigo de opinião dos jornalistas Danilo Taino e Luigi Offeddu critica as “brigas, insultos e banalidades” que têm marcado a campanha eleitoral até agora: “Se as forças políticas em campanha eleitoral para o Parlamento Europeu continuarem a não referir as questões que dizem respeito à União Europeia, acabarão por colocar o país à margem de uma Europa da qual fomos membros fundadores”, escrevem.

Em França, o jornal Le Monde usa o título “Europeias: crónica de um desastre anunciado” para um artigo de opinião onde se deseja que os resultados das eleições sejam surpreendentes e contrariem as tendências ditadas pelas sondagens – uma vitória da Frente Nacional ou um novo recorde da abstenção. ” Gostaríamos verdadeiramente que houvesse uma surpresa no domingo”, escreve o jornal.

No Reino Unido, as atenções continuam voltadas para as polémicas em torno do UKIP, o partido anti-UE e anti-imigração. As sondagens mais recentes dão o primeiro lugar ao partido de Nigel Farage: 32% das intenções de voto contra 27% para o Labour e 23% para os Tories.

O Guardian escreve esta quarta-feira que Farage prevê uma vitória do seu partido nas eleições europeias e que os ataques feitos pelos trabalhistas e conservadores, que denunciaram o líder do UKIP como racista, acabaram por dar a Farage uma maior margem nas intenções de voto.

Nigel Farage sugeriu na sexta-feira que ficaria mais incomodado se tivesse vizinhos romenos do que alemães.

O Telegraph escreve hoje que George Osborne, ministro das finanças, acusa o UKIP de ser uma ameaça à economia. Osborne defende que a subida do UKIP e a possibilidade de um Governo trabalhista põem em causa a economia de mercado livre britânica. “Os partidos políticos na esquerda e na direita populista têm isto em comum: querem levantar a ponte levadiça e isolar o Reino Unido do resto do mundo.”