As eleições para o Parlamento Europeu começam nesta quinta-feira. Holanda e Reino Unido são os primeiros a ir a votos, numas eleições onde cepticismo para com a Europa abunda.

Poucas notícias falam de Conservadores ou Trabalhistas, no Reino Unido. Os nomes dos líderes nem sequer são citados. Todos os holofotes estão virados para Nigel Farage. No site do Guardian, na quarta-feira ao fim do dia, o líder partidário o UKIP, Partido Independentista do Reino Unido, aparecia em quatro das cinco notícias mais lidas da seção de política. A quinta anunciava que os Liberais Democratas, liderados por Nick Clegg, estão “preparados para o aniquilamento” nas eleições que se realizam nesta quinta-feira.

O jornal britânico teve acesso a um documento privado do partido onde já se preparava o discurso da derrota que se prevê e a potencial perda de lugares no Parlamento Europeu. O documento aconselha as figuras do partido a dizer que estão ”desapontadas com os resultados mas que o partido mantém-se firme e que isto era esperado nesta fase do ciclo eleitoral”.

Espera-se também que, pela primeira vez no Reino Unido, a extrema-esquerda tenha mais votos que os Verdes. Segundos as previsões, aquele partido ecologista pode passar de quarto para sexto lugar nas forças políticas que representam o país na Europa. Mas todos estes factos parecem estar a ser esquecidos face à popularidade do UKIP e de Nigel Farage.

Há três semanas que o UKIP está na frente das intenções de voto nas europeias. A única incerteza para hoje será a magnitude da vitória. A última sondagem antes do dia dava o primeiro lugar ao UKIP com 32% das intenções de voto contra 27% para o trabalhistas e 23% para os conservadores. Os liberais democratas ficam com 7%, segundo a previsão.

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“Nós [UKIP] atingimos a frente [das intenções de voto] há três semanas e quando se está à frente todos os mísseis são disparados na tua direção. Sim, por vezes algumas falhas começam a aparecer”, disse Nigel Farage, num programa de rádio matinal da BBC, na quarta-feira, ao defender-se das críticas que lhe eram apontadas em vésperas de eleições. Para o líder partidário do UKIP, eurocético assumido, as múltiplas críticas feitas pelos trabalhistas e conservadores durante as últimas semanas acabaram por dar ao partido uma maior margem nas intenções de voto, em vez de “afetarem” a campanha.

“Ajudem-nos a causar um terramoto político”, lê-se ao entrar na página do partido, um dos objectivos assumidos nesta campanha. Actualmente, Farage já faz parte do Parlamento Europeu e, por diversas vezes, protagonizou cenas polémicas. Chegou mesmo a afirmar que “a União Europeia é o novo comunismo. É o poder sem limites.”

Tal como outros partidos eurocéticos, o UKIP tem uma forte campanha anti-imigração, muitas vezes com referências de conotação racista. Numa entrevista radiofónica, na semana passada, Nigel Farage afirmou até não saber o que era o racismo – na mesma entrevista em que foi confrontado com casos de imigrantes ilegais, os mesmos que quer expulsar do país, a trabalhar para o partido.

Holanda: outro país, realidade semelhante

No entanto, Farage não é a única voz eurocética que se faz ouvir nestas eleições para o parlamento europeu: na Holanda passa-se uma história muito semelhante. Hoje, quando os holandeses foram a votos, vão ter bem viva na memória a última “loucura” de um dos principais e polémicos líderes partidários.

Na quarta-feira, Geert Wilders, líder do Partido da Liberdade (PVV), convocou os jornalistas da AFP e da Reuters para “assistirem a um evento forte”, em Bruxelas. Nas proximidades do Parlamento Europeu, Wilders pegou numa tesoura e cortou uma estrela à bandeira oficial da União Europeia. Segundo o próprio, o gesto foi “simbólico” e serviu para “que os eurocratas não eleitos em Bruxelas saibam que a Holanda quer sair da UE o mais rapidamente possível.”

No início do mês de Março, Wilders protagonizou outra situação polémica onde defendeu que queria “menos marroquinos em Haia”. Vários membros do PVV acharam que líder tinha-se excedido e alguns demitiram-se. Mesmo assim, de acordo com a última sondagem, o Partido da Liberdade aparece como a segunda maior força política na Holanda com 13.5% das intenções de voto nas Europeias. Só os Democratas 66 (D66) têm uma percentagem superior – em quatro pontos percentuais.

Abaixo do PVV, aparecem os Democratas Cristão (CDA) – em 2009 conquistaram o maior número de assentos no Parlamento Europeu – empatados com o Partido Socialista (SD) e o Partido para a Liberdade e Democracia (VVD). Numa campanha muito apagada, à semelhança do que aconteceu noutros países da Europa, a polémica foi o que captou mais a atenção dos média. Os resultados vão-se ver nas urnas, tanto para Wilders como para Farage.