Vinte cinco anos depois da repressão do movimento pró-democracia da Praça de Tiananmen, continua sem se saber ao certo quantas pessoas morreram quando os soldados chineses abriram fogo sobre civis desarmados nas ruas de Pequim e em pelo menos mais 180 cidades chinesas. O que é certo é que a China continua a querer apagar da história este massacre cuja imagem mais icónica é a de um homem que se coloca em frente a uma fila de tanques para evitar que estes avancem.

De acordo com o site independente GreatFire.org, que reúne informação sobre o bloqueio de sites e motores de busca na China, estão bloqueados os serviços de pesquisa e pesquisa de imagens, os serviços de tradução, o Gmail e quase todas as aplicações disponibilizadas pela empresa norte-americana. Foi também cortado o acesso à versão chinesa do Google, Google.com e versões de outros países. Um dos posts no site explica que este é o bloqueio mais grave dos últimos tempos e resulta da “autoridade chinesa de censura”.

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A censura a sites e redes sociais já faz parte do modus operandi do Governo chinês. Os bloqueios ao Facebook, Twitter ou YouTube são mais que habituais. Mas não é apenas na Internet que a China tenta fazer esquecer o que aconteceu há 25 anos. Há algumas semanas que as autoridades chinesas estão a realizar uma operação cujo objetivo é a neutralizar os dissidentes. A operação, chamada Manutenção da Estabilidade, já resultou na detenção e prisão de dezenas de pessoas. De acordo com o New York Times, vários elementos de um grupo que realizou um encontro sobre o que aconteceu em 1989 foram detidos e interrogados pela polícia. Publicar selfies tiradas na Praça Tiananmen, igualmente conhecida como Praça da Paz Celestial, também deu azo a detenções policiais. E aos jornalistas foi feito um aviso: não se aproximem da Praça, caso contrário podem vir a sofrer consequências.

Todos os anos há detenções nos aniversários do movimento pró-democrático e a Amnistia Internacional compilou uma lista de 50 pessoas que foram presas na China por ocasião do 25.º aniversário. Para alguns académicos, a campanha para a manutenção da estabilidade mostra que o presidente Xi Jinping, há 15 meses no cargo, está determinado em acabar com a dissidência, seja interna (dentro do Partido Comunista Chinês), seja externa (a da sociedade civil). “Estes últimos acontecimentos dão a entender que Xi Jinping gostaria de ser um homem politicamente mais forte, ao estilo de Mao Tsé-Tung”, disse Perry Link, um especialista sobre a China da Universidade da Califórnia, ao New York Times.

A União Europeia também reagiu ao que se está a passar na China. De acordo com um comunicado do Serviço Europeu de Ação Externa (SEAE), a UE está “profundamente preocupada com as recentes prisões e detenções de um grande número de defensores dos direitos humanos, advogados e intelectuais”, pede para ser respeitada “a liberdade de expressão e associação reconhecidas pela Constituição chinesa” e solicita “a libertação de todos os que foram presos pela expressão pacífica dos seus pontos de vista”.