A nova vaga de emigração para França tem sido acompanhada pelo aumento do número de pedidos de ajuda à Santa Casa da Misericórdia de Paris, disse à Lusa o provedor da instituição que celebra 20 anos a 13 de junho.
“Nos últimos três anos, tem vindo a aumentar o número de ajudas aos recém-chegados, às pessoas que foram obrigadas a emigrar. Em alguns casos ajudamo-las a sair da rua e a encontrar emprego, em outros a matricular os filhos na escola”, exemplificou Joaquim Silva Sousa.
“As pessoas emigram em massa. Não sabemos quantos chegam, mas vemos que os pedidos de ajuda – para pagar hotel ou comprar comida – têm aumentado, até da parte de pessoas com mais de 60 anos e acabadas de emigrar”, explicou.
O Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Paris avançou que aumentou, também, o número de pessoas a ficar numa situação de “no man’s land” porque ainda não são reconhecidas pelas estruturas do país de acolhimento, dando como exemplo recente o caso de “uma mulher que chegou a Paris com uma criança de um ano e esteve a dormir no metro”.
Para marcar o vigésimo aniversário da Misericórdia de Paris, o Consulado-Geral de Portugal acolhe a 14 de junho as Quartas Jornadas Sociais da Comunidade Portuguesa, subordinadas ao tema “500 anos das Misericórdias portuguesas – 20 anos da Misericórdia de Paris”, com o objetivo de fazer um balanço da associação caritativa no seio da comunidade portuguesa.
“A Misericórdia de Paris tem um papel cada vez maior. Há situações de famílias, com crianças, a ficar na rua se não houver intervenção nossa e das associações portuguesas. Às vezes temos de pagar uma semana de hotel”, explicou Joaquim Silva Sousa, que será um dos oradores das Jornadas com o tema “Balanço e futuro da Santa Casa no contexto socioeconómico atual”.
O papel da instituição, que nasceu em Paris a 13 de junho de 1994, é ainda mais relevante porque “a Embaixada e o Consulado deixaram de ter meios” e tem de ser a instituição “a fazer esse trabalho”, observou o provedor.
Por outro lado, a Misericórdia de Paris intervém em casos de idosos com reformas muito baixas, já que “cerca de um terço dos portugueses (residentes em França) recebe uma reforma abaixo do limiar de pobreza”, muitos dos quais porque emigraram “com 30 e 40 anos e não têm uma carreira de descontos completa em França”.
“Temos aqui pessoas isoladas que deixaram de ter ligação a Portugal e encontram-se a viver em França com reformas de 600 euros. Temos que intervir. Uma pessoa de idade diz que não precisa de nada, mas tem de optar entre aquecer o apartamento ou comprar comida”, explicou ainda Joaquim Silva Sousa.
Por ano, a Santa Casa da Misericórdia de Paris ajuda “mais de 500 pessoas de uma forma ou de outra”, entre ajuda alimentar, alojamento, apoio moral a pessoas sós e doentes ou mesmo “para oferecer uma sepultura condigna aos compatriotas que morrem sós”, descreveu o provedor da associação.
Além das Quartas Jornadas Sociais, o programa do aniversário conta com uma cerimónia religiosa no Santuário de Nossa Senhora de Fátima em Paris (13 de junho), uma homenagem aos 12 cidadãos portugueses sepultados no jazigo da instituição no Cemitério d’Enghien-les-Bains e a bênção de um novo jazigo (14 de junho), e a participação na Festa dos Santos Populares da Rádio Alfa, em Créteil (15 de junho).
Por outro lado, a Santa Casa da Misericórdia de Paris aproveita o vigésimo aniversário para lançar uma campanha de adesão de novos voluntários, pretendendo atingir os mil associados, uma vez que o atual número não chega aos 400.
Outra iniciativa para mobilizar a comunidade é a corrida “Correr pela Misericórdia”, no dia 5 de outubro, nos arredores de Paris (Jouy-en-Josas), com a participação do ex-futebolista Rui Barros.