Com temperaturas próximas dos 40º C a principal preocupação para este fim-de-semana é manter-se fresco. Banhos de água fria, esplanadas à sombra, gelados e bebidas refrescantes são algumas das soluções encontradas pelos portugueses. Aos animais domésticos os donos podem garantir algumas condições de conforto, mas os animais selvagens que convivem com temperaturas elevadas têm de encontrar outras soluções.
Os elefantes tomam banhos de lama e usam as orelhas grandes para libertarem o excesso de calor do corpo. Os hipópotamos passam o dia dentro de água e alimentam-se durante a noite em terra. Os leões descansam à sombra durante as horas de maior calor e caçam ao fim do dia. Mas não são só a copa das árvores e a sombra que fornecem uma solução fresca aos animais, o tronco também pode ser uma solução refrescante.
Quando está muito calor, os humanos suam, porque a evaporação do suor vai fazer com que o corpo fique mais fresco. Os cavalos também conseguem fazê-lo, mas a maior parte dos animais não. Para muitos, como os cães e os gatos, a solução é respirar rápido ou arfar. Os coalas também usam esta solução nos dias quentes, mas o ar expirado, além de libertar calor, também elimina alguma água. Como os coalas não bebem água – toda a água que necessitam vem das folhas de eucalipto de que se alimentam – perder água pode tornar-se um problema.
Os fenómenos extremos de calor na Austrália, onde vivem os coalas, podem mesmo provocar-lhes a morte. “Cerca de um quarto da população de coalas de Nova Gales do Sul morreu durante uma onda de calor em 2009. Perceber que fatores tornam algumas populações mais resilientes é importante”, afirma em comunicado de imprensa Andrew Krockenberger, investigador na Universidade James Cook, na Austrália.
Enquanto estudava os microclimas dos habitats de coalas no sudeste australiano, Natalie Briscoe, investigadora na Universidade de Melbourne (na Austrália), apercebeu-se que nos dias de maior calor estes animais procuravam as zonas mais baixas das árvores e usavam com maior frequência árvores que não os eucaliptos onde se alimentam. Verificou também que os coalas tentavam que uma maior superfície do corpo ficasse em contato com a árvore – encontrou alguns estirados nos ramos das árvores.
A utilização de uma câmara de infravermelhos – capaz de detetar níveis de calor representados por cores diferentes -, para estudar 37 coalas na Ilha French (Victória), permitiu à equipa de Natalie Briscoe perceber que a temperatura das árvores, em particular da acácia estudada (Acacia mearnsii), era inferior à temperatura ambiente e que isso podia justificar o comportamento dos coalas.
http://cdn4.sci-news.com/images/2014/06/image_1968-Koalas.jpg
Imagem térmica de um coala à procura de arrefer – Natalie J. Briscoe et al./Univ. Melbourne/Sci-News
Nas acácias a diferença de temperatura entre a base do tronco e o meio ambiente pode chegar aos 8,9º C e a diferença entre o meio do tronco e o ambiente é em média 5,1º C. Já no caso da copa não ultrapassa os 1,4º C. As diferenças nas espécies de eucaliptos são muito menores – entre 1,46 (no meio) e 1,87º C (na base) mais baixas que a temperatura ambiente. Os resultados foram publicados no início deste mês na revista científica Biology Letters.
A temperatura nas árvores varia mais lentamente do que a temperatura ambiente. Além disso, as árvores absorvem água fresca do solo que fazem transportar pelos vasos condutores, refere o The Guardian. Isso explica porque é que durante a hora de maior calor os coalas se refrescam agarrados às árvores. O estudo prevê que, para os coalas que abraçam as acácias, a quantidade de calor que necessitam de perder por evaporação seja cerca de metade do que para os coalas que não usam esta estratégia.
A sobrevivência do coalas pode estar ameaçada. Por um lado, as temperaturas podem continuar a aumentar, assim como a frequência de fenómenos extremos. Por outro, a quantidade e tipo de árvores disponíveis para abraços refrescantes tem vindo a diminuir.