“Cheguei à conclusão de que Tony Blair finalmente enlouqueceu”. Foi desta forma que Boris Johnson, mayor de Londres, começou o artigo de opinião publicado este domingo no Daily Telegraph. Johnson está a referir-se ao ensaio que Tony Blair escreveu este sábado e onde defendeu ser bizarro associar a invasão norte-americana e britânica do Iraque, em 2003 com o que se está a passar atualmente no país.

Johnson leu o ensaio e considerou que “a recusa de Blair em enfrentar os factos” lhe pareceu “desequilibrada”. “Ao falar do desastre que é o Iraque de hoje, ele [Blair] fez afirmações tão desligadas da realidade que deixa perceber que certamente precisa de apoio psiquiátrico profissional”, escreveu o mayor de Londres na sua coluna semanal.

Tony Blair era o primeiro-ministro do Reino Unido em 2003 quando se deu a invasão do Iraque, justificada pela existência de armas de destruição maciça no país. No ensaio publicado este sábado, Blair escreveu que se Saddam não tivesse sido deposto, “o cenário mais provável” seria um em que o Iraque estaria “imerso na mesma convulsão” em que se encontra hoje.

O antigo primeiro-ministro britânico disse ainda que a crise atual é um assunto que afeta todos e pediu intervenção ocidental na área.

Johnson escreve que antes da invasão de 2003, não havia al-Qaeda no país e que Saddam Hussein não teve nada a ver com os ataques de 11 de setembro de 2001 e não possuía armas de destruição maciça. “A verdade é que destruímos as instituições de autoridade no Iraque sem ter a mínima ideia do que viria a seguir”, defende o mayor de Londres.

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“Quando votámos a favor da guerra – e eu também votei – fizemo-lo com a crença, que agora parece ingénua, de que os Governos britânico e norte-americano tinham um plano para o que se seguiu depois. Acreditámos que havia um Governo à espera e que as instituições cívicas seriam preservadas e retomadas na era pós-Saddam”, escreve Boris Johnson.

Com o tempo, Johnson foi-se tornando progressivamente mais “cínico” sobre a intervenção, admite, para depois emitir um juízo: “A guerra do Iraque foi um erro trágico”. Para Boris Johnson,  ao ignorar isto, Blair está a prejudicar a causa que diz defender: a possibilidade de uma intervenção séria e eficaz”, escreve Boris Johnson, para quem o Reino Unido ainda pode tentar reparar os estragos. “Talvez haja algumas coisas específica que podemos e, moralmente, devemos fazer para ajudar a proteger o povo iraquiano do terrorismo”.

Johnson termina o artigo desta forma: “Alguém precisa de dizer a Blair para aceitar a realidade do desastre que ajudou a criar. Talvez aí valha a pena ouvi-lo”.

Os comentários de Boris Johnson surgem no momento em que o governo iraquiano garante ter retomado a iniciativa contra a iniciativa de rebeldes sunitas liderados pelo Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS). Os extremistas capturaram cidades importantes – Mosul e Tikrit – mas muitas já foram recuperadas, diz a BBC.