Quando entrei no taxi já lá estava dentro uma pessoa, para além do habitual taxista. T-shirt amarela, calções, cara comprida, barba, dois piercings na sobrancelha esquerda.

“O John é aquele gringo que eu te falei, Ricardo.” Duarte, o taxista que tem andado comigo em Manaus, foi buscar John ao aeroporto quando ele chegou e também hoje ao hotel. Mas as dificuldades de comunicação entre os dois têm sido tantas, que Duarte decidiu aproveitar a boleia do meu inglês.

Apresentações feitas, ele atrás, eu à frente, seguimos.

John Vennema nasceu no Texas, mas vive em Nova Iorque. Pertence à equipa de produção de um programa televisivo, “Orange is the new black”. Este é o primeiro Mundial que vê ao vivo e escolheu Manaus por os bilhetes de avião serem mais baratos do que para cidades como o Rio de Janeiro ou São Paulo, e pela improbabilidade. “Este parece o local mais estranho para se ver os jogos do Mundial, portanto é a minha praia. A minha maneira de fazer umas férias relacionadas com desporto é vir para a selva…Assim posso ver jogos e ir ver macacos. Uma experiência única!”, diz a rir-se.

O dia acordou com as nuvens tão revoltas em Manaus que a chuva levou a uma quebra de energia prolongada, que deixou metade da cidade sem luz. Os semáforos deixaram de funcionar, e eu, John e Duarte acabamos por tomar o pequeno-almoço numa padaria às escuras. Entre um pão de queijo e uma fatia de bolo de maracujá com laranja, John explica que chegou ontem à noite de uma viagem à selva amazónica de quatro dias, por isso acabou mesmo por perder a estreia da seleção norte-americana no Brasil, vitória por 2-1 frente ao Gana. “Só consegui marcar essa viagem para esta data. Não tive qualquer hipótese. Ouvi muito pouco num rádio velho, apenas o resultado. Sei que ganhámos, mas nem sei quem marcou…”

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Quando lhe digo que Clint Dempsey fez o golo mais rápido deste Mundial, logo aos 30 segundos, John festeja efusivamente, com direito a braços no ar e tudo, junto à bilheteira do Teatro Amazonas, para onde seguimos depois do pequeno-almoço. “Really?! That’s great!”

O norte-americano inscreveu-se no site da FIFA para conseguir bilhetes para todos os jogos em Manaus, e conseguiu. Calhou os EUA jogarem aqui, contra Portugal. “Jackpot!”. E este jogo ele não vai perder. O entusiasmo, mais a sério, com o futebol começou com o Mundial de 2006, e foi crescendo – “para este Mundial acompanhei toda a fase de qualificação. Agora até tenho uma equipa norte-americana por quem torço, tornou-se o desporto que acompanho.”

John serve de espelho ao que se está a passar nos EUA em relação ao “soccer”. “Até agora o futebol era uma coisa em que nós apenas nos esforçávamos e se perdêssemos ‘estava bem, ok’. Agora não, estamos a ficar histéricos, como o resto do mundo.” A MLS, a liga nacional de futebol nos Estados Unidos, tem-se tornado mais competitiva e atraído nos últimos anos alguns nomes importantes do futebol mundial como David Beckham ou Thierry Henry, ainda que já na fase final da carreira. “Já consegues estar a conversar com alguém e dizer: eu estive no jogo dos Red Bull. E eles responderem que também lá estiveram. Há quatro anos isso não acontecia, nunca! Há quatro anos diriam: o quê?! Sinto que a cada Mundial o número de adeptos de futebol aumenta 20%. Este ano está toda a gente a falar do Mundial!”

E a seleção dos Estados Unidos, John, o que vale? “É difícil perceber se estamos a melhorar muito por causa dos nossos adversários. Nós ganhamos à Costa Rica, mas depois empatámos com a Jamaica, e tu não sabes o que isso significa… Porque nós não temos a hipótese de jogar contra seleçoes europeias ou as grandes da América do Sul. Então nunca sabes até que chegas a um torneio destes. Eles próprios (os jogadores) não sabem bem o que valem, ninguém sabe…”

E Portugal? “Acho que sem o Ronaldo temos hipótese. Para mim tudo depende de quanto o Ronaldo joga. Se ele jogar perto do que é capaz será muito difícil. Mas se ele não estiver bem, e nós estivermos, então temos uma boa hipótese.”

John considera que a seleção portuguesa tem outros bons jogadores, mas que é a presença de Cristiano Ronaldo que torna Portugal uma equipa formidável em vez de uma “equipa com quem nós (EUA) sentimos que somos capazes de disputar o resultado.” E ele admite que este é um pensamento generalizado entre os adeptos norte-americanos.

Caso o joelho esquerdo de Cristiano Ronaldo não dê sinais de melhoria até Domingo será caso para dizer: Houston, we have a problem?…