Os Estados Unidos desbloquearam uma ajuda financeira de 572 milhões de dólares ao Egito, anunciaram hoje responsáveis norte-americanos no âmbito de uma visita surpresa do secretário de Estado John Kerry ao Cairo. A ajuda financeira foi desbloqueada há cerca de duas semanas depois de ter recebido luz verde do Congresso. Esta parcela representa uma parte substancial da ajuda norte-americana ao seu aliado árabe – 1,5 mil milhões de dólares, incluindo 1,3 mil milhões em ajuda militar – que estava congelada desde outubro, condicionada à implementação das reformas democráticas no país.

Existe uma preocupação crescente junto das autoridades norte-americanas relativamente à prisão de jornalistas no Egito e às medidas duras que estão a ser aplicadas a membros da oposição, incluindo julgamentos em massa que condenaram centenas à morte. Tal como escreve o New York Times, o financiamento americano para programas de armamento está dependente da certificação de que o Egito tem um relacionamento estratégico com os EUA e da confirmação do acordo de paz com Israel.

John Kerry confirmou essas condições em abril e a administração Obama procurou autorizar a primeira tranche do financiamento – 650 milhões de dólares- para apoiar a segurança fronteiriça e programas de contra-terrorismo. O Congresso norte-americano suspendeu temporariamente o financiamento, mas 572 milhões de dólares acabaram por ser libertados.

O secretário de Estado norte-americano John Kerry chegou hoje ao Egito para uma visita surpresa, primeira de um alto responsável norte-americano depois da eleição do presidente Abdel Fattah al-Sissi, o ex-chefe do exército que em julho de 2013 destituiu Mohamed Morsi, o primeiro presidente democraticamente eleito. John Kerry terá um encontro com o chefe de Estado egípcio, que prestou juramento há duas semanas, a quem deverá transmitir as reservas de Washington sobre a repressão e as táticas de governo, que segundo os Estados Unidos, dividem a sociedade egípcia.

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Durante a visita, que durará apenas algumas horas, Kerry irá encontra-se também com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sameh Shoukri, antigo embaixador em Washington. O secretário de Estado norte-americano inicia no Cairo um périplo pelo Médio Oriente e Europa para debater com os aliados dos Estados Unidos a situação no Iraque e a necessidade de formar um governo de unidade no país, onde os extremistas islâmicos continuam a ganhar terreno. Depois do Cairo, John Kerry viaja para Amman para encontros com o homólogo da Jordânia Naser Yudeh.

Com esta viagem, o secretário de Estado norte-americano espera apressar a formação de um governo de várias fações no Iraque. Obama anunciou a semana passada que planeava enviar cerca de 300 conselheiros militares para ajudar as forças iraquianas a lutar contra o ISIS. Kerry quer enviar duas mensagens sobre o Iraque, escreve o New York Times. A primeira consiste em mobilizar os estados árabes para que usem a sua influência juntos dos políticos iraquianos e incentivem a rápida criação de um governo inclusivo. A segunda está relacionada com o financiamento dos militantes sunitas do ISIS. O grupo consegue sustentar-se a si próprio através de extorsões e pilhagens, mas também recebe algum apoio de países vizinhos.

“Não significa que se trate de uma política governamental oficial, mas significa que alguns destes governos podem fazer mais para parar os apoios”, disse um oficial não identificado a bordo do avião que levou Kerry ao Cairo. A visita acontece um dia depois da confirmação de 183 condenações à morte por um tribunal do centro do Egito, incluindo a do líder da Irmandade Muçulmana, Mohammed Badie.