As forças iraquianas lançaram domingo uma ofensiva contra extremistas em Tikrit, cidade natal de Saddam Hussein, numa altura em que a Rússia enviou os aviões de combate comprados por Bagdad.

A aviação governamental atingiu Tikrit e registaram-se também combates na periferia da cidade, de acordo com testemunhas citadas pela France Press.

Milhares de soldados estão envolvidos naquela que pode ser considerada a ofensiva mais ambiciosa de Bagdad contra os extremistas do grupo Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL na sigla em inglês) que dominam zonas consideráveis em cinco províncias do país desde o princípio de junho.

O primeiro-ministro Nuri al-Maliki já admitiu que são necessárias soluções políticas para a crise, mas um porta-voz do chefe do executivo repetiu hoje que Bagdad considera que a operação militar em Tikrit é “crucial” não apenas do ponto de vista tático mas também para a moral dos soldados.

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“As forças de segurança estão a avançar a partir de diferentes áreas” de Tikrit, cidade sunita, disse aos jornalistas o tenente-general Qassem Atta sublinhando que se “registam confrontos”.

Atta acrescentou que as tropas conseguiram neutralizar os engenhos explosivos que tinham sido colocados nas principais estradas de acesso à cidade pelos extremistas do ISIL.

Várias testemunhas que se encontram no centro de Tikrit disseram à AFP que a aviação governamental já efetuou vários ‘raids’ sobre a cidade, atingindo inclusivamente zonas do antigo palácio de Saddam Hussein.

As forças iraquianas, segundo o general Atta, estão a “estudar alvos importantes” em coordenação com os conselheiros norte-americanos que foram enviados para o país recentemente.

No norte, combatentes apoiados pelas forças curdas avançaram para a povoação de Basheer, perto de Kirkuk, de maioria xiita, e que se encontrava controlada pelos extremistas islâmicos.

A ofensiva de Tikrit acontece numa altura em que aviões de combate Sukhoi SU-25 de fabrico russo foram enviados por Moscovo numa tentativa de reforçar a supremacia aérea de Bagdad.

De acordo com uma fonte oficial iraquiana, os pilotos de Bagdad treinados antes de 2003, durante a ditadura de Saddam Hussein, têm capacidade para pilotarem os aparelhos de fabrico russo.

Os SU-25 são aviões de combate destinados a ataques contra posições terrestres o que significa que podem ser utilizados pelas forças iraquianas contra os membros do ISIL que se encontram baseados nas cidades do norte do país.

O primeiro-ministro Maliki disse na terça-feira que Bagdad comprou doze aviões Sukhoi à Rússia por 368 milhões de euros.

Os Estados Unidos enviaram para o país conselheiros militares que estão a operar junto dos oficiais iraquianos nas operações com aviões não tripulados (drones) sobre a capital.

Militares do Iraque já lamentaram que Washington não tenha enviado aviões de combate F-16 e helicópteros Apache.

Os Estados Unidos, cujas tropas retiraram do Iraque em 2011, insistem na reconciliação política e têm rejeitado os apelos de Bagdad no sentido de ataques aéreos norte-americanos contra as posições insurgentes no país.

Várias fontes oficiais norte-americanas já propuseram, entretanto, um plano de 500 milhões de dólares que prevê treinar e armar um exército na Síria e que possa combater epois os militantes do ISIL no Iraque, que opera dos dois países.

Um porta-voz de Mailiki disse que “centenas” de soldados iraquianos foram mortos pelos extremistas desde o dia 09 de junho, sendo que as Nações Unidas estimam que o número de mortos é superior a mil, na maioria civis.

Organizações humanitárias têm pedido, nas últimas semanas, a abertura de corredores humanitários capazes de garantir auxílio aos deslocados que podem ser um milhão e 200 mil nas zonas atingidas pelos combates.

Líderes mundiais insistem em acordos políticos entre as várias comunidades iraquianas e o Grande Ayatollah Ali al-Sistani, em Kerbala, líder religioso da maioria xiita, pediu aos líderes políticos a formação de um novo Governo em Bagdad.

Maliki já reconheceu a necessidade de medidas políticas mas membros de vários partidos iraquianos têm afirmado que a formação de um novo Executivo pode demorar mais de um mês.

No norte, e apesar dos apelos à unidade nacional, o líder do Curdistão iraquiano, Massud Barzani, disse que Bagdad já não pode impedir os curdos de exercerem o poder em Kirkuk e em outras áreas onde se registou a retirada das forças federais na sequência dos ataques do ISIL.

As forças curdas ocuparam regiões disputadas desde sempre com Bagdad e que foram abandonadas pelas forças governamentais este mês provocando os receios na capital de que possam ser integradas na província autónoma do Curdistão iraquiano.