O ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA) Edward Snowden está exilado na Rússia há quase um ano depois de ter posto a descoberto dezenas de programas de vigilância desenvolvidos por aquela agência de inteligência norte-americana, mas isso não invalida que a NSA possa estar descansada. Segundo revelou na quinta-feira a cadeia de televisão pública alemã, foram reveladas novas informações vindas, muito provavelmente, de uma outra fonte que não Snowden.
O canal alemão Das Erste publicou um relatório sobre o funcionamento do programa da NSA XKeyscore, com uma análise parcial ao código do programa, onde são reveladas as regras daquela base de dados, que centra a sua atividade no rastreio dos endereços de IP de todos os utilizadores que procurem na internet por formas de proteção de privacidade. Uma destas ferramentas, uma das mais utilizadas, é a plataforma TOR – um software gratuito usado diariamente por milhares de pessoas em todo o mundo para escapar à censura, que permite preservar a identidade online e garantir o anonimato dos utilizadores.
O TOR é particularmente utilizado por dissidentes e ativistas dos direitos humanos de todo o mundo com o intuito de poderem aceder à internet sem serem rastreados e acusados pelos seus governos. Sempre foi, por isso, um alvo preferencial da NSA.
“A NSA está a concentrar esforços para combater todos os espaços brancos [de anonimato] deixados na internet”, escreveram alguns dos autores da análise feita ao código do XKeyscore, como Lena Kampf, Jacob Appelbaum e John Goetz, todos associados ao projeto TOR. “A mera visita a sites ligados a questões de preservação da privacidade é suficiente para o endereço de IP do utilizador ser logo rastreado e aparecer na base de dados da NSA”, dizem.
A questão é que, segundo a investigação dos media alemães, especialistas que estão por dentro do caso Snowden e que tiveram acesso aos documentos do ex-espião, garantem que se trata de informação nova proveniente de uma nova fonte de informação – não de Edward Snowden.
Primeiro, foi o ativista e autor do blogue Boing Boing, Cory Doctorow que avançou que, na sequência das revelações, um especialista “acreditava que a fuga de informação poderia vir de uma segunda fonte, uma vez que não tinha encontrado nada relacionado com isso nos ficheiros originais de Snowden, e tinha visto outras revelações que também pareciam independentes dos materiais de Snowden”.
A teoria foi depois sustentada por Bruce Schneier, especialista em segurança que trabalhou diretamente com o jornalista do The Guardian Glenn Greenwald na altura em que Snowden lhe revelou os documentos e que, por isso, conhece bem o conteúdo dos ficheiros desviados pelo ex-funcionário da NSA. “Como disse o Cory, também não acredito que isto tenha vindo de documentos do Snowden”, disse. “Acho que há um segundo informador”.
Schneier confirma assim que não viu nenhuma referência ao catálogo da TAO (Operações de Acesso Adaptadas), a unidade de hackers da NSA que é considerada a maior arma secreta da agência norte-americana por se infiltrar em computadores de todo o mundo, no material de Snowden, pelo que se trata de material novo.
“Se isto se confirmar são óptimas notícias”, dizem os responsáveis pelo software TOR que estiveram envolvidos na análise do código do programa. “A existência de uma segunda fonte significa que Snowden está a inspirar alguns dos seus ex-colegas a mergulhar fundo na atitude da NSA perante a lei e a decência”, dizem.