Os políticos portugueses são dos que mais cumprem as suas promessas eleitorais, ficando em terceiro lugar num estudo com 11 países desenvolvido por investigadores de várias universidades, incluindo a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Os mandatos avaliados foram o primeiro de António Guterres (1995-1999) e o primeiro de José Sócrates (2005-2009). Os socialistas portugueses ficaram apenas atrás do Reino Unido e da Suécia no que diz respeito a cumprir promessas feitas durante a campanha eleitoral no seu período de governação.
O estudo intitulado “Explaining the Fulfillment of Election Pledges: A Comparative Study on the Impact of Government Institutions” e apresentado esta terça-feira na Assembleia da República revelou que, ao contrário da perceção da população, os governos dos 11 países avaliados cumpriram quase 60% das promessas que fizeram durante o período de campanha eleitoral. Os que mais cumpriram foram os governos do Reino Unido e da Suécia, seguidos pelo primeiro mandato de Guterres e de José Sócrates como chefes do executivo português. O governo que menos cumpriu foi o da Irlanda (gráfico em baixo). O estudo destes dois governos portugueses (e também dos italianos) ficou a cargo de Catherine Moury, atualmente professora auxiliar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e foi financiado pela FCT.
Este estudo levado a cabo por investigadores das universidades de Strathclyde (no Reino Unido), do Alabama (nos EUA), de Gutemburgo (na Suécia), da Complutense de Madrid (Espanha), do Illinois (nos EUA), de Laval (no Canadá) e da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (Portugal) contabilizou as propostas feitas em período eleitoral por partidos que depois acabaram por formar governos em 11 países e chegou à conclusão, que em média, os governos cumprem quase 60% daquilo que prometem.
O estudo analisou vários governos dos diferentes países Bulgária, Irlanda, Portugal, Espanha, Alemanha, Reino Unido, Itália, Estados Unidos da América, Holanda, Canadá e Suécia desde os anos 70 até à atualidade e independentemente de serem governos constituídos por um só partido ou por coligações. Também foram contabilizadas promessas dos partidos da oposição, embora não entre as forças políticas portuguesas.
Coligações cumprem menos
Em Portugal, os investigadores contabilizaram 248 promessas feitas pelos ex-primeiro-ministros António Guterres e José Sócrates nos seus programas eleitorais durante as campanhas e concluíram que os socialistas conseguiram cumprir quase 70% das mesmas. A investigadora Catherine Moury disse ao Observador que os resultados a surpreenderam enquanto académica e que compreende que para os cidadãos também causem espanto. “O que contabilizámos no estudo foi o cumprimento da promessa, ou seja, a acção institucional tomada pelo governo e o que interessa ao cidadão é que esta ação alcance o objetivo que se pretende. Que alcance resultados num tempo limitado, o que muitas vezes é difícil que aconteça”, sublinha Moury.
Para explicar esta taxa de sucesso face a outros países europeus, o estudo aponta que os governos em que um partido detém a maioria consegue cumprir as suas promessas com mais facilidade do que os que lideram um país em coligação com outras forças partidárias o que justifica que Estados com mais tradição de entendimentos governativos como a Alemanha fiquem atrás do executivo socialista português.
“Os partidos que ganham as eleições e formam governo têm mais hipóteses de cumprir largas percentagens das promessas que fazem durante a campanha” escrevem os investigadores.
Para além disto, os investigadores concluíram que o ambiente económico influencia a quantidade de promessas feitas durante a campanha, mas não da forma que seria expectável. “Se os partidos respondessem de forma exata aos níveis de crescimento económico, os seus responsáveis deveriam fazer compromissos mais modestos quando a economia está mais fraca e assim a quantidade de promessas cumpridas seria sempre a mesma independentemente do estado da economia. No entanto, apesar das promessas serem ajustadas a este indicador, os partidos prometem geralmente mais do que é prudente em tempos de dificuldades económicas”, pode ler-se no estudo.
Portugueses não acreditam que os eleitos cumpram as suas promessas
As conclusões contrastam com um inquérito de opinião realizado em 2006 em 33 países (incluindo Portugal), e mencionado neste estudo, que mostra que mais de 70% dos portugueses consideram que os seus eleitos não têm em conta as promessas feitas em campanha eleitoral. No Programa de Inquérito Social Internacional sobre o papel do governo coordenado pelo Instituto Leibniz (o maior instituto de pesquisa em ciências sociais na Alemanha), os portugueses não estão sozinhos ao avaliarem que as promessas dos políticos não são cumpridas.
Em Portugal, foram entrevistadas mais de 1.700 pessoas para este inquérito e quase 70% das pessoas consideram que os seus eleitos não cumprem as promessas. Esta opinião teve eco lá fora nos restantes 32 países, onde a média das pessoas que discordavam da afirmação “os eleitos cumprem as suas promessas” também é muito superior a 50%. “Há um pessimismo em excesso por parte dos cidadãos” conclui a investigadora Catherine Moury. Os países que consideram que os seus governantes mais têm em mente as promessas que fazem durante as campanhas são a África do Sul, Austrália e Dinamarca.