O problema é de português? É. Pelo menos, para os defensores da reestruturação da dívida pública. Pedro Nuno Santos e Francisco Louçã, juntos na elaboração de um relatório sobre o tema, defendem que os partidos, entre eles o PS, não devem ter medo das palavras, até porque renegociar e reestruturar a dívida são a mesma coisa.

“Não há distinção ideológica entre um termo e outro. Quando se diz que se quer uma renegociação, estamos a dizer que queremos negociar para reestruturar”, disse Pedro Nuno Santos. O deputado do PS e vice-presidente da bancada parlamentar falava esta quinta-feira de manhã na apresentação do relatório “Um Programa Sustentável para a reestruturação da dívida portuguesa”. Pedro Nuno Santos começou por dizer que PS, BE e PCP usam termos diferentes, mas que vão os dois termos dar ao mesmo.

A declaração do apoiante de António Costa pode ser lida à luz da própria discussão que acontece no partido. A direção de António José Seguro tem feito questão de diferenciar entre “renegociar” e “reestruturar”, defendendo que se devem negociar com os credores as maturidades dos empréstimos e ainda os juros, não defendendo um “haircut” ou um perdão de capital. Ora, essas são exatamente algumas das propostas defendidas quer por Louçã quer por Pedro Nuno Santos, no grupo de trabalho que criaram depois de terem assinado o Manifesto dos 74.

O ex-coordenador do Bloco de Esquerda fez questão de insistir na mesma ideia. Durante a apresentação do relatório e respondendo a perguntas da assistência, Francisco Louçã fez a comparação. “Porquê reestruturar e não renegociar? Renegociar é o processo, reestruturar é o objetivo. Não devemos fugir das palavras: o objetivo é reestruturar”, afirmou.

Os dois até admitem que possam existir “propostas melhores”. Mas para Pedro Nuno Santos uma coisa é certa: “Agora não se pode ignorar propostas concretas. Obviamente que nos expõem e que criam divergências mesmo entre quem defende que tem de se reestruturar. Este debate tem de ser feito”. Louçã sintetizou: “A dívida não pode continuar a ser uma conversa de café”.

O debate começou há meses com a elaboração do Manifesto dos 74 que juntava economistas de vários quadrantes da sociedade portuguesa em torno de uma necessidade de reestruturação da dívida. Mas se o Manifesto foi o primeiro passo, este relatório quer ir para além e não vincular que assinou o primeiro documento. “O Manifesto dos 74 colocou o debate em termos muito incisivos: é preciso uma resposta europeia e são precisas propostas concretas. Este relatório não representa esse manifesto – emana dele”, esclarece Louçã depois de algumas críticas feitas na comunicação social nos últimos dias por assinantes do primeiro documento, como António Bagão Félix.

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