A controvérsia não é nova: podem as pessoas tornar-se viciadas em comportamentos sexuais? Investigadores da Universidade de Cambridge tentaram encontrar uma resposta definitiva ao realizarem exames cerebrais a 19 homens enquanto estes assistiam a filmes de índole pornográfica. É o primeiro estudo sobre os ditos “viciados em sexo”, diz a BBC, e descobriu semelhanças notáveis com toxicodependentes. Ainda assim, não há conclusões definitivas.

Os resultados, publicados no jornal PLoS One, mostraram centros de recompensa do cérebro com maior atividade no decorrer do visionamento dos respetivos vídeos, muito à semelhança do que acontece quando viciados em droga vêem a sua substância de eleição. A BBC explica que todos os homens estavam obcecados com pensamentos e comportamentos sexuais, mas que não é certo que estes sejam viciados no mesmo sentido em que um fumador precisa de nicotina.

A médica Valerie Voon, da Universidade de Cambridge, disse à BBC: “Este é o primeiro estudo que tem em consideração as pessoas que sofrem destes transtornos e que olha para a sua atividade cerebral, mas acho que ainda não compreendemos o suficiente para dizer com certeza que é um vício”. Acrescentou que não é possível determinar se alguns dos efeitos observados são predisposições ou se advêm da pornografia — “é muito difícil de dizer”.

“Viciado sexual”, o que é isso?

Joana Almeida, sexóloga desde 2007, explica que o ser-se “viciado” em sexo não é considerado uma doença. Não é consensual e não foi reconhecido pela comunidade médica. Além disso, dizer que alguém procura demasiada atividade sexual pode ser encarado como um juízo moral: “No fundo, estamos a criticar uma norma. As pessoas têm diferentes modos de encontrar satisfação”.

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A também psicóloga argumenta que, hoje em dia, existe uma grande oferta de conteúdos sexuais à disposição de um indivíduo, seja através da internet ou de revistas. Também a facilidade em encontrar parceiros sexuais ajuda à equação. A seu ver, a situação torna-se problemática quando há muitos comportamentos de risco que colocam em causa a saúde individual e a de terceiros, mas também caso exista prejuízo nas restantes funções pessoais. Se os atos em questão não causarem sofrimento (ou culpabilidade) à pessoa, o comportamento não tem de ser encarado como algo negativo.

Para Joana Almeida, que trabalha em consultórios privados e colabora com a Associação para o planeamento da família, as pessoas estão a pedir mais ajuda médica ao recorrer a clínicas, mas não é possível afirmar que existam mais sujeitos “viciados”. A questão, diz, “é um assunto quente para os jornais, mas em termos de investigação não é algo para o qual se tenha encontrado um modelo de intervenção”. Por essa razão, é preciso analisar-se caso a caso.

E o que dizer da pornografia? Para a sexóloga, esta pode ser encarada como algo positivo para o casal. “A capacidade de nos apetecer, de ficarmos satisfeitos, também passa pela prática. Praticar muito, seja sozinho ou com outra pessoa, faz parte da sexualidade. Acho que existe boa pornografia e aquela que não nos ensina nada sobre a exploração da sexualidade ou do prazer recíproco”, diz.

Muito embora exista o lado bom da questão, é preciso saber procurar bem, até porque a oferta pode ser muito limitadora. Há pornografia que potencia uma educação muito afunilada, em vez de deixar as pessoas a sonhar ou a fantasiar. No entanto, Joana Almeida garante que o facto de um indivíduo usar esta forma de se excitar não implica que vá perder o apetite sexual pelo outro membro do casal: “não gastamos a libido”, conclui.