O plano de cessar-fogo que o secretário de Estado norte-americano John Kerry alegadamente apresentou a Israel na passada sexta-feira não menciona as necessidades de segurança israelitas, nem faz referências ao objetivo de desmilitarizar a Faixa de Gaza, escreve este domingo o jornal israelita Haaretz, que teve acesso ao documento.

O Haaretz escreve que o plano foi enviado para o gabinete do primeiro-ministro antes de o conselho de ministros de segurança reunir. No documento divulgado no site do jornal israelita pode ler-se:

Reconhecendo a necessidade de proteger as vidas de civis, a necessidade de pôr fim a todas as hostilidades na Faixa de Gaza, bem como às que são lançadas a partir deste território, e a necessidade de alcançar um cessar-fogo sustentável e uma resolução para a crise, as fações palestinianas e o Estado de Israel concordam com os seguintes compromissos:

a) Estabelecer um cessar-fogo humanitário, pondo fim a todas as hostilidades na Faixa de Gaza e lançadas a partir deste território, que terá início dentro de 48 horas e durará sete dias;

b) Partir do acordo de cessar-fogo do Cairo, alcançado em novembro de 2012;

c) Reunir no Cairo, a convite do Egito, dentro de 48 horas, para negociar a resolução de todos os assuntos necessários para atingir um cessar-fogo sustentável e uma solução duradoura para a crise em Gaza.

O jornalista do Haaretz responsável pela notícia, Barak Ravid, escreve que esta terceira cláusula acaba por enunciar, “de uma forma ou de outra”, as exigências do Hamas relativamente à abertura de fronteiras e à livre circulação de bens e pessoas.

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Ravid diz também que, por outro lado, as exigências de Israel foram mencionadas apenas em “termos gerais”, uma vez que o documento não inclui referências à desmilitarização da Faixa de Gaza ou ao desmantelamento dos túneis do Hamas.

Esta notícia surge depois de John Kerry ter afirmado não ter sido feita nenhuma proposta formal ao Governo israelita na sexta-feira.

O secretário de Estado norte-americano tinha pedido uma trégua de sete dias, mas no final de sexta-feira a esperança de um acordo deste género falhou. Ainda assim, perante as notícias que afirmavam que os ministros israelitas tinham recusado o cessar-fogo, Kerry reiterou que não houve um plano formal e que Israel iria clarificar a situação.

“Não houve nenhuma proposta formal apresentada a Israel”, disse Kerry, citado pelo Guardian. “Vamos tornar isto bem claro. O primeiro-ministro Netanyahu ligou-me para me dizer que a recusa tinha sido um erro e que iria emitir um comunicado nesse sentido. É justo dizer que Israel se opôs a alguns conceitos, mas isso não significa que tenha sido feito uma proposta”.

Barak Ravid escreve que os ministros israelitas, na sua maioria familiarizados com as outras propostas americanas, ficaram chocados com o plano que o Haaretz agora revela, acabando por votar unanimemente contra o documento.

O mesmo jornalista assina este domingo um artigo de opinião no mesmo jornal, onde defende que a proposta colocou o Israel e o Hamas em pé de igualdade, “como se o primeiro não fosse um aliado norte-americano e o segundo um grupo terrorista que controlou a Autoridade Palestiniana num golpe militar e disparou milhares de rockets contra Israel”.