Podia ter sido pior. Em teoria, claro. Os dragões foram a Nyon, à sede da UEFA, sentaram-se numa sala e viram o sorteio ditar-lhes um confronto com o Lille. Primeira impressão: é uma equipa francesa, terminou no 3.º lugar do campeonato e tem na equipa um jovem português que é vice-campeão europeu na categoria de sub-20. É Marcos ‘Rony’ Lopes, médio emprestado pelo Manchester City, que assim se vai estrear na Champions logo contra uma equipa portuguesa.

Havia outros adversários possíveis. E pelo menos um era de evitar a todo o custo — o Atlético de Bilbao, equipa basca que, na liga espanhola, terminou em quarto lugar e inferniza a vida a qualquer clube que lhe faça uma visita. Essa fava calhou aos italianos do Nápoles. O Porto ficou com o Lille, clube do norte de França, a piscar o olho à fronteira com a Bélgica, e que, em 2011, se sagrou campeão gaulês.

Nessa altura, ainda tinha como treinador Rudi Garcia, homem que, entretanto, foi para Roma dar nas vistas (na época passada, terminou no 2.º lugar da Série A e, portanto, sabe que tem presença garantida na fase de grupos desta Liga dos Campeões). Hoje, quem dá ordens no banco do Lille é René Girard. Homem que também sabe ganhar — em 2012, conseguiu que o Montpellier conquistasse pela primeira vez a liga francesa.

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Na época seguinte, aterrou no Lille. Não correu bem. A equipa terminou no 6.º posto do campeonato. Sem direito às competições europeias, portanto. René Girard, porém, ficou. Seguiu-se o tal 3.º lugar na última edição da Ligue 1, atrás do Monaco e do Paris Saint-Germain (PSG) — a bigamia que os milhões russos e árabes, dos magnatas que decidiram investir nestes clubes, criaram no futebol francês.

E conseguiu-o com estrelas sem muito brilho. Ou melhor, com a luz ofuscada pelos Ibrahimovics, Falcaos, Verrattis, Pastores ou Lavezzis que agora são moda em França. Mas calma, o Lille também tem as suas. A começar por Divock Origi, avançado belga, de 19 anos, que entrou no último Mundial como surpresa e de lá saiu como fruto cobiçado por vários clubes europeus.

E a passar por Salomon Kalou, extremo costa-marfineses, que andou várias épocas pelo Chelsea, e Rio Mavuba, médio, já trintão, que foi com a seleção francesa ao Campeonato do Mundo. Benoit Pedretti, médio certinho no passe, internacional gaulês e antigo jogador do Lyon, também lá está. Já agora, umas palavras para Vincent Enyeama, elástico guarda-redes nigeriano, perito a parar bolas e a manter a boa disposição dentro de campo, e Simon Klaer, o gigante central dinamarquês.

Na terça-feira, porém, todos eles disseram bienvenue a outra cara. À de Marcos Lopes. Ou melhor, a Rony, alcunha pela qual é conhecido o médio, de 18 anos, que o Manchester City emprestou ao Lille. O português só esta semana se juntou à equipa francesa, pois esteve com a seleção nacional no Europeu de sub-20 até à final, onde perdeu frente à Alemanha. “Estou ansioso por me estrear com as minhas novas cores”, disse, à chegada ao clube, um dia antes de o Lille empatar (1-1) contra os suíços do Grasshoppers e garantir a passagem a esta 3.ª pré-eliminatória (tinham vencido por 0-2, na primeira mão).

A cor, de resto, é o vermelho, a mesma que vestia antes de, em 2011, o City o caçar nos juniores do Benfica. Três anos passou a trocar minutos e pontapés entre as reservas e a equipa principal do clube de Manchester, até que os citizens o resolveram emprestar para ter minutos noutras paragens.

Veremos se os terá contra um Porto, dotado de um novo chip espanhol, instalado por Julen Lopetegui, que tem feito tudo para que um software de controlo de bola, de passes, passes e mais passes, corra sem problemas numa equipa que não está habituada a ter de parar numa pré-eliminatória para chegar ao destino — a fase de grupos da Liga dos Campeões. O primeiro teste é a 20 de agosto, em Lille, e a segunda mão joga-se no Porto, a 26 ou 27.