A ameaça da epidemia de ébola terá “repercussões económicas e fiscais significativas numa série de países” da África Ocidental, alertou esta quinta-feira a agência financeira Moody’s.
O surto da doença poderá ter um “efeito financeiro direto nos orçamentos nacionais, através do aumento das despesas com a saúde”, concretiza a agência, em comunicado.
Indiretamente, acrescenta a Moody’s, o Ébola poderá também contribuir para o abrandamento nas receitas do Estado, numa região onde “os orçamentos já são condicionados por uma baixa cobrança de impostos”.
Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa – os três países mais afetados pelo vírus – deverão sofrer “perturbações críticas no comércio e nos transportes” durante este mês e “pelo menos durante o próximo”, estima a agência de notação financeira com sede em Londres, Reino Unido.
Um outro estudo divulgado hoje, da consultora Teneo Intelligence, indicava que a epidemia poderá implicar custos económicos imediatos de dois pontos percentuais do Produto Interno Bruto de Libéria, Serra Leoa e Guiné-Conacri.
A Moody’s alerta ainda que, “se um surto significativo emergir em Lagos, capital da Nigéria e uma das mais populosas cidades africanas, as consequências para a indústria do petróleo e do gás na África Ocidental serão consideráveis”.
A Nigéria – onde já morreram duas pessoas em dez casos confirmados de contaminação com o Ébola, e foi declarado o estado de emergência – é o maior produtor de petróleo do continente e um surto de Ébola no país teria consequências na produção e na mão de obra, o que levaria “rapidamente a uma deterioração económica e fiscal”.
Guiné-Conacri e Serra Leoa, cujos orçamentos já são “deficitários”, deverão “ver as suas situações orçamentais deterioradas, na sequência dos custos elevados com a saúde”, realçou Matt Robinson, vice-presidente do departamento de créditos da Moody’s, no comunicado.
A agência antecipa ainda uma desaceleração do crescimento económico da Serra Leoa no caso de o setor mineiro ser afetado pela epidemia.
Na semana passada, a Libéria indicou que as despesas relacionadas com o Ébola tiveram um custo de 12 milhões de dólares (9 milhões de euros) no segundo trimestre do ano (o que equivale a dois por cento do orçamento anual do Estado). As autoridades do país estão conscientes de que esse custo deverá aumentar no terceiro trimestre, em curso, dado que o vírus continua a propagar-se.
Na passada sexta-feira, a Organização Mundial de Saúde declarou a epidemia de Ébola uma “emergência de saúde pública com alcance internacional” e recomendou a adoção de medidas excecionais para deter a propagação do vírus, que, desde março, já causou mais de mil mortos. Uma série de países da África Ocidental já declararam também o estado de emergência e várias fronteiras foram encerradas.
Banco Mundial, Banco Africano de Desenvolvimento e Organização Mundial de Saúde consideram que as necessidades financeiras para prestar assistência aos três países africanos mais afetados pelo vírus ultrapassam os 300 milhões de dólares (225 milhões de euros).
O vírus Ébola transmite-se por contacto direto com sangue, fluidos ou tecidos de pessoas ou animais infetados, e ainda não há uma vacina para a doença.