Imaginemos o seguinte cenário: o leitor é casado, mas falta-lhe qualquer coisa; inscreve-se num site onde pode encontrar alguém ao seu gosto para pisar o risco e assinar a infidelidade. A última coisa que espera é que haja alguém a espiar as suas conversas, intenções, desvarios e fetiches. Pior: que escreva um estudo com recurso ao ping-pong da sedução. Será isto verdade ou mentira?
A história chega-nos pela Time e é escrita com uma senhora carga de ironia, sarcasmo e piada. O site em questão é o www.ashleymadison.com, que tem também a sua versão em português, onde pode ler-se “A vida é curta. Tenha um caso”. Segundo o mesmo, o site é o “líder mundial de encontros discretos para pessoas casadas” e ganhou um prémio de segurança de confiança. Ah! E é “100% discreto”… Será?
No total, estão inscritos quase 28 milhões de membros anónimos. Os novos usuários têm uma de seis categorias para integrar: homem comprometido procura mulheres; mulher comprometida procura homens; homem solteiro procura mulheres; mulher solteira procura homens; homem procura homens; mulher procura mulheres.
Voltemos então à história inicial. O estudo em causa será apresentado no 109.º encontro anual da Associação Americana de Sociologia em São Francisco. Quem o desenvolveu foi Eric Anderson, um professor da Universidade de Winchester, em Inglaterra. O objeto foram mais de 4.000 conversas online. “É evidente que o nosso modelo de fazer sexo e amor apenas com uma pessoa toda a vida falhou; e falhou redondamente”, defende Anderson.
Segundo a Time, Anderson lidera o gabinete científico da Ashley Madison, o que por si só deixa adivinhar muita conveniência relativamente ao resultado do estudo. Mais: estranha o facto de Anderson ser professor de desporto, sendo que sete dos dez livros que publicou são relativos à prática desportiva, enquanto apenas um aborda relacionamentos amorosos. Dito isto, continuemos.
“Eu monitorizei as conversas das mulheres com homens no site, sem o seu conhecimento. Os homens também não sabiam”, afirmou. Anderson quer que o seu estudo ajude “a deslindar o estrangulamento que a nossa cultura tem sobre sexo e amor”. Como? Espiando as informações secretas no perfil do utilizador e espiando todas, todas as conversas privadas.
Isto de um casal se guardar para si é visto, por Anderson, como uma “privação sexual relativa”, fruto dos tempos modernos. E a culpa é da internet. “As pessoas avaliam o seu estado comparando a sua posição com quem tem mais. As mulheres podem, por isso, olhar para as suas relações monogâmicas e considerarem-se sexualmente privadas em comparação com o que veem ocorrer na cultura sexualizada de hoje”. Outra conclusão de Anderson é que as mulheres que traem até amam os seus maridos, mas preferem trair ao divórcio. A razão? Precisam de mais paixão.
E o culpado desta história toda quem será? O site, o professor, a internet ou a sociedade? Bom, na verdade é o cliente, que aceitou os tais termos de privacidade. Fica o aviso.