Se quiser continuar na ONU, quer como Alto Comissário para os Refugiados – cargo que ocupa há nove anos -, ou tentar candidatar-se a secretário-geral da organização em 2016, António Guterres pode contar com o apoio diplomático do Governo de Passos Coelho.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) não tem em marcha, ainda, nenhuma campanha diplomática para apoiar uma candidatura de António Guterres para o cargo de secretário-geral da ONU ou qualquer outro cargo internacional. “Desconhecemos que o ex-primeiro-ministro tenha manifestado essa intenção ou qualquer outra”, afirmou fonte do MNE ao Observador. Mas há uma nota adicional vinda das Necessidades: o Governo, “por princípio, apoia indivíduos portugueses com currículo para ocupar relevantes postos em organizações internacionais”.

Ou seja, se o ex-primeiro-ministro socialista e atual Alto Comissário da ONU para os Refugiados quiser continuar nas Nações Unidas, o Governo de Pedro Passos Coelho vai apoiá-lo nessa pretensão. Como é natural, uma carreira mais prolongada na ONU retiraria Guterres de uma corrida às eleições presidenciais, em janeiro de 2016.

O mandato como Alto Comissário para os Refugiados termina em maio de 2015, mesmo a tempo de se apresentar como candidato a Belém, mas Guterres pode optar por tentar renovar o seu mandato nesse cargo. O Observador contactou o seu gabinete em Genebra sobre a possibilidade de um terceiro mandato, que remeteu para uma decisão da Assembleia Geral da ONU. Há uma outra hipótese, até há meses bastante falada nos corredores da política: a de Guterres tentar suceder a Ban Ki-moon, que deixa de ser secretário-geral da ONU no final de 2016.

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Caso se mantivesse como Alto Comissário por mais cinco anos, Guterres seria a pessoa que mais tempo ocuparia esse cargo desde a criação do posto em 1951. Até agora o mandato mais longo foi o de Sadruddin Aga Khan, que foi Alto Comissário entre 1965 e 1977. Devido ao elevado número de refugiados motivados pelos vários conflitos em todo o mundo – Síria, Iraque e Ucrânia são apenas alguns exemplos de países em que as populações têm fugido em grande número devido a confrontos armados -, é possível que a experiência de Guterres seja requerida para mais um mandato.

Uma porta aberta ao regresso

Durante vários anos, Guterres foi taxativo a afastar quaisquer pretensões de se candidatar à Presidência da República, não o quis ser em 2006, nem em 2011. Porém, tudo mudou em maio, quando o socialista deixou uma primeira porta aberta em entrevista à Sábado: “Não quero ser candidato, mas não faço juras eternas; há sempre uma probabilidade, mesmo que mínima, de isso acontecer”.

Depois disso, os apelos e apoios a uma candidatura a Belém seguiram-se unânimes, dos vários quadrantes do PS, quer do grupo de António José Seguro, quer do de António Costa. “Para a nossa esquerda, não há outro. Guterres é o melhor”, afirmou Mário Soares ao Expresso em julho. “Acho que seria um privilégio para o país poder ter o engenheiro António Guterres como Presidente da República. (…) Se tivesse que escolher, creio que era seguramente o melhor que a esquerda poderia ter”, disse António Costa, em entrevista ao Público.

Também António José Seguro lhe declarou total apoio: “António Guterres, se quiser ser candidato a Presidente, estou convencido que receberá o apoio da esmagadora maioria, não só dos socialistas, mas de muitos cidadãos portugueses. António Guterres tem todas as condições para ser um grande Presidente da República”.

“Seria das muito poucas coisas que me faria sair da vida que tenho hoje (…) Numa luta dessas estaria com grande vontade e com grande prazer ao lado dele porque acho que o país ficaria com um excelente Presidente da República”, disse, por sua vez, Jorge Coelho à RTP.

As eleições presidenciais de 2016 arriscam-se a ter muitos mais candidatos do que anteriores disputas e até fazer regressar Portugal aos anos 80, ou seja, à altura em que havia eleições presidenciais com duas voltas. A última vez foi em 1986 quando Mário Soares ganhou a Freitas do Amaral.

À direita, perfilam-se pessoas como Marcelo Rebelo de Sousa, Pedro Santana Lopes ou Rui Rio. À esquerda, o PS não tem dúvidas sobre Guterres – basta ele querer. O PCP apresenta sempre candidato. O BE pode lançar Francisco Louçã. E não esquecer Fernando Nobre, que diz estar em período de reflexão.