Bombas, rockets, casas destruídas, crianças que nunca serão homens e mulheres, soldados que não voltarão para casa, escolas, hospitais arrasados e sonhos que ficam por cumprir. Tem sido assim na Faixa de Gaza, a ferida que deixa escorrer mais sangue no conflito israelo-palestiniano. Mas há sempre alguém que faz o vento soprar no sentido contrário. E esta é uma dessas histórias…

Mahmoud Mansour, um muçulmano de 26 anos, e Maral Malka, uma judia convertida ao Islão, de 23 anos, casaram na noite deste domingo, em Rishon Lezion, nos subúrbios de Tel Aviv, conta a Reuters. Como seria de esperar, a cerimónia foi tudo menos pacífica. Cerca de 200 protestantes israelitas, alegadamente de extrema-direita, estacionaram perto do local do evento e gritaram palavras de ordem como “morte aos árabes”.

Isaelis gather in opposition to the right-wing Organization for Prevention of Assimilation in the Holy Land (LEHAVA), and in support of Mahmoud Mansour, an Arab-Israeli, and Morel Malcha, a Jewish, outside the wedding hall where they got married on August 17, 2014 in the Israeli costal city of Rishon Letzion. Hebrew writting on sign reads "Congratulations to Mahmoud and Morel."  AFP PHOTO/GALI TIBBON        (Photo credit should read GALI TIBBON/AFP/Getty Images)

Manifestantes pro-casamento (GALI TIBBON/AFP/Getty Images)

Se o conflito em Gaza fazia adivinhar por si só uma ofensiva deste grupo organizado (Lehava) — que é contra casamentos entre judeus e não judeus –, o facto de Malka ter-se rendido ao Islão é visto, pelos manifestantes, de t-shirt preta, como um ato de “traição ao Estado judeu”. Bentzi Gopstein, o diretor do Lehava, acusou ainda Morel de “casar o inimigo enquanto a nação está em guerra.

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Centenas de polícias foram mobilizados para o casamento, para manter uma distância de segurança entre os protestantes e o local da cerimónia, mas também entre os manifestantes pro-casamento. Do lado do casal, estiveram dezenas de apoiantes, com flores, balões e cartazes. Entre eles, um dizia “o amor conquista tudo”. O noivo disse, ao canal israelita Channel 2, que os protestantes não teriam sucesso: “Dançaremos e casaremos até ao nascer do sol. Defendemos a coexistência.”

An Isaeli supporter of the right-wing Organization for Prevention of Assimilation in the Holy Land (LEHAVA) is detained by police during a demonstration outside the wedding hall where Mahmoud Mansour, an Arab-Israeli, and Morel Malcha, a Jewish, got married on August 17, 2014 in the Israeli costal city of Rishon Letzion.  AFP PHOTO/GALI TIBBON        (Photo credit should read GALI TIBBON/AFP/Getty Images)

Um protestante anti-casamento a ser detido (GALI TIBBON/AFP/Getty Images)

Alguém que não vê as coisas com estes olhos é Yoram Malka, o pai de Maral, que classificou o casamento como “um triste acontecimento”. O facto de a filha ter-se convertido ao Islamismo é outra espinha na garganta. Já com Mahmoud Mansour, o genro, o problema é só um: “ele é árabe”.

Quatro dos protestantes anti-casamento foram detidos quando tentavam aproximar-se demasiado, violando assim uma decisão do tribunal, que assegurava uma distância de segurança de 200 metros. Foi o melhor que conseguiu o advogado do casal, que tentou bloquear o protesto. Sem sucesso.

Surpreendente foi a presença no casamento da ministra da Saúde israelita, Yael German, uma centrista no Executivo de Netanyahu. Para a governante, o casamento e os protestos contra o mesmo são a “expressão da democracia”.