A Federação socialista da Área Urbana de Lisboa (FAUL), liderada pelo deputado e ex-secretário de Estado Marcos Perestrello, apoiante de António Costa, está envolta numa aguerrida troca de acusações nas vésperas do congresso distrital, marcado para o próximo dia 5 de setembro. António Galamba, candidato da ala segurista à liderança da FAUL, afirma que a Comissão Organizadora do Congresso não inclui qualquer membro da lista adversária e acusa a direção de engendrar um “golpe de secretaria” para “impedir que haja candidaturas alternativas”. A direção da federação, no entanto, atira que a Comissão Organizadora do Congresso foi aprovada por unanimidade, com o consentimento tanto de Perestrello como de Galamba, cuja candidatura ainda não tinha sido formalizada.

Sob o título “O golpe do vale tudo na FAUL: atual maioria quer ganhar na secretaria”, António Galamba acusa, em comunicado, a maioria de Marcos Perestrello de não ter incluído na Comissão Organizadora do Congresso (COC) nenhum membro afeto à candidatura adversária e de estar a realizar um “golpe de secretaria” ao impor um rácio de delegados por militante muito inferior ao habitual nas eleições das federações de dimensão semelhante à de Lisboa (A FAUL é a segunda maior federação do PS, a seguir à do Porto).

É que, segundo António Galamba, o rácio de delegado por número de militantes de cada secção da FAUL é este ano de um delegado por cada sete ou oito militantes, ao invés de ser de um por 25 como foi na eleição distrital anterior e como tem sido habitual nos últimos anos. Um “golpe de secretaria” que, diz, vai fazer com que haja um número extremamente elevado de candidatos a delegados, que, em algumas estruturas, pode chegar facilmente aos 25 ou 30% do número total de militantes com capacidade eleitoral. Com estes rácios aplicados, diz Galamba, “o universo dos militantes candidatos a delegados é superior a metade dos militantes inscritos com capacidade eleitoral”, lê-se no comunicado.

“A transposição destas regras para o plano nacional faria com que o PS só pudesse realizar Congressos Nacionais em estádios de futebol”, atira António Galamba.

Maioria defende-se com alteração aos regulamentos do PS

Para a direção da Federação de Lisboa, no entanto, o comunicado de Galamba consiste apenas num “ato desesperado de quem não tem apoios”, disse ao Observador José Rosa Egipto, diretor de campanha da lista de Perestrello. Isto porque, diz, a Comissão Organizadora do Congresso é a mesma de há dois anos e terá sido aprovada por unanimidade na Comissão Política Federativa do dia 14 de julho, onde estavam presentes tanto a ala de Marcos Perestrello, como o próprio António Galamba.

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Nessa Comissão Política foi também aprovado o número de delegados ao Congresso, que se fixou nos 800 a 815, repetindo o número já usado nos anos anteriores. A diferença está no rácio de delegados escolhido pela COC, que é nitidamente inferior aos rácios usados anteriormente, e que Galamba aponta como sendo um “golpe” da direção da federação.

Para Manuel Portugal Lage, da Comissão Organizadora, a redução do rácio de delegados por militantes é, no entanto, a única forma possível de respeitar as deliberações da Comissão Política do último dia 14 de julho (que fixou o número de delegados na ordem dos 800) e, ao mesmo tempo, ir ao encontro de uma alteração ao regulamento aprovada em junho na Comissão Nacional do PS, realizada em Ermesinde, que, diz, reduz o universo de militantes sobre o qual incidem os cálculos.

Antes da alteração feita no contexto do PS nacional, o cálculo do número de delegados aos Congressos distritais era feito com base no número de militantes inscritos na secção, “o que incluía por exemplo os militantes inscritos há apenas seis meses ou os que tinham quotas em atraso até dois anos”, explica Manuel Lage ao Observador. Depois da alteração ao regulamento feita em sede da Comissão Nacional, acrescentou-se à norma que os cálculos incidem sobre o número de militantes inscritos na secção e “incluídos nos cadernos eleitorais”. Ou seja, todos os que têm efetivamente as quotas em dia e podem votar e ser eleitos. O que fez com que, diz Manuel Lage, tivesse havido a necessidade de reduzir o rácio para chegar ao número de 800 delegados previamente estipulado.