Muitos cabo-verdianos aderiram, em casa ou no trabalho, por algum tempo, ao “Dia do Pé Descalço”, uma iniciativa realizada pelo segundo ano consecutivo em homenagem à cantora Cesária Évora, que completaria 73 anos. Em declarações à agência Lusa, Titciana Santos, funcionária da produtora Harmonia, no centro histórico da Cidade da Praia, no Plateau, disse que aderiu à iniciativa porque é uma boa forma de homenagear Cesária Évora, uma cantora que colocou Cabo Verde no mapa mundial.

“Muita gente passou a conhecer Cabo Verde através da Cesária Évora. Para mim é uma honra estar descalça neste dia”, frisou a jovem, orgulhosa, apelando às pessoas para aderirem ao desafio lançado no ano passado pelo jornalista cabo-verdiano Moisés Évora. “É uma oportunidade de todos sentirem o que a Cesária sentia: uma sensação de liberdade. É uma boa homenagem, mas sempre se pode fazer muito mais. Mais isso depende da consciência de cada um, pois, não podemos impor às pessoas o que devem fazer”, completou.

Ainda no centro histórico do Plateau, na Cidade da Praia, a Lusa falou com o senhor José Rui Fernandes, 57 anos, mais conhecido por “Tchibita” e que recorda que foi um “grande amigo” da Cesária Évora, pelo que não poderia deixar passar o dia sem lhe prestar uma homenagem.

“É uma homenagem a Cesária Évora e tudo o que ela foi como artista e como pessoa. Foi uma artista generosa, extraordinária, que vale a pena fazer esta homenagem hoje e sempre”, referiu Tchibita, para quem estar com os pés no chão é uma “sensação normal”, mas “significativa”. Quem também foi trabalhar com os pés no chão foi o Tony da Cruz, 46 anos, para quem estar descalço dá uma sensação de liberdade, a “liberdade que a Cesária carregou consigo” nos vários palcos do mundo.

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“A Cesária merece muito mais do que isso”, prosseguiu Tony Ramos, lamentando o facto de o cabo-verdiano valorizar mais os seus artistas apenas quando são valorizados lá fora, referindo-se ao caso de Cesária Évora, que iniciara para o estrelato em França.

“Hoje e sempre devemos continuar a reconhecer sempre o seu valor. Vou continuar a homenageá-la com os pés no chão e de outras formas”, continuou o empresário, que passou o dia a ouvir música da “Cize” no local de trabalho e no carro. Entretanto, considerou que a iniciativa deveria ter mais adesão em Cabo Verde, comparando com França, onde, disse, mais gente aderiu ao desafio. Em declarações à RCV, Moisés Évora, jornalista que lançou a ideia no ano passado, disse que não poderia passar o dia sem estar com os pés descalços, para recordar “com saudade” a rainha da morna cabo-verdiana e tudo o que ela fez para a cultura e para o país.

Este ano, Moisés Évora lançou mais um desafio, apelando às pessoas que têm muitos sapatos em casa e que não os usam que os doam às pessoas com mais necessidades ou às instituições sociais. “Seria um gesto bonito neste dia muito especial”. Por sua vez, José “Djô” da Silva, responsável da Harmonia, produtora que acompanhou Cesária Évora, disse que é uma ideia que deve ser repetida todos os anos, como forma de recordar e continuar a promover o nome da cantora.

Segundo Djô da Silva, no ano passado a Harmonia recebeu muitas fotos de várias partes do mundo de pessoas com os pés descalços, um gesto que se repetiu este ano e a página do Facebook criada para o efeito foi inundada com fotos de gente descalça, em casa ou no trabalho. O primeiro-ministro cabo-verdiano, José Maria Neves, considerou que se trata de uma “simbologia importante” para a Cesária Évora, “uma referência internacional, uma riqueza, um grande património de Cabo Verde e um exemplo para os jovens e para as gerações futuras”.

Um pouco por todo o país, aconteceram iniciativas para recordar Cesária Évora, desde passeatas, marcha, tocatinas, serenatas, ou simples encontros de amigos e admiradores, com pés descalços, e a recordar a obra e o percurso da “rainha” da morna cabo-verdiana. Cesária Évora nasceu no dia 27 de agosto de 1941 e morreu no dia 17 de dezembro de 2011, no Mindelo (São Vicente), com 70 anos.