O antigo presidente do PSD Marcelo Rebelo de Sousa defendeu na sexta-feira que o CDS-PP tem com o PSD uma “aliança natural”, estando os dois partidos “condenados” a aliarem-se.

Num debate com Jaime Gama sobre “o CDS no sistema de alianças partidárias em Portugal”, na “escola de quadros” dos centristas, em Peniche, Marcelo Rebelo de Sousa disse ainda defender no atual contexto uma coligação pré-eleitoral PSD/CDS para as legislativas, embora os sociais-democratas tenham dado “sinais de abertura a outras coligações pós eleitorais, se fosse necessário”.

Marcelo afirmou que a coligação que os centristas fizeram com o PS, há 36 anos, teve um contexto específico, e considerou que pode ser reeditada numa “situação histórica específica pontual, de curta duração, mas não é uma aliança natural”.

“Com o PSD é uma aliança natural, mas é o cabo dos trabalhos”, afirmou, defendendo que “é mais complicado para o CDS, porque o PSD é um partido que se tornou central, tal como o PS à esquerda, na vida política portuguesa, e com o cavaquismo tornou-se radicalmente central”.

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Para Marcelo, “o CDS tem hoje uma consolação: para chegar ao poder, precisa da aliança com o PSD”, porque “não é fácil chegar sozinho e chegar com o PS é muito mais complicado”, sendo que “o PSD, desde que acabou o cavaquismo, também precisa do CDS para ter maioria no governo”.

“Esse é um dado novo, testado já com Durão Barroso e Passos Coelho e não há sondagens que apontem facilmente para o PSD num passado recente ou futuro próximo sozinho ter 44 ou 50% dos votos”, disse.

“Isso significa que estão condenados, em termos de exercício de poder ao serviço do país, a uma aliança um com o outro”, sustentou.

Essa circunstância coloca “dúvidas”, a começar com uma eventual futura fusão, na qual o professor de Direito diz não acreditar, e a questão de se tratar de coligações pré-eleitorais ou pós-eleitorais.

“Não há uma resposta clara. As coligações pré-eleitorais decorrem da necessidade. Quando eu sonhei uma coligação pré-eleitoral naquela altura, em 1998, com Paulo Portas, era porque precisávamos disso, porque Guterres estava à beira da maioria absoluta e a maneira de travar era a coligação pré-eleitoral”, afirmou.

No contexto atual, Marcelo diz-se “defensor de uma coligação pré-eleitoral PSD/CDS, embora sabendo que nalguns momentos o PSD deu sinais que queria essa coligação, mas ao mesmo tempo dava sinais de abertura outras coligações pós eleitorais, se fosse necessário”.

Sobre a sua experiência de tentativa de coligação pré-eleitoral com CDS, enquanto líder do PSD, Marcelo disse apenas que esteve “quase” e que acabou por ser uma espécie de Moisés, guiou os hebreus e apontou a terra prometida, mas acabou por ser outro a lá chegar.

Para qualificar Paulo Portas também recorreu a uma imagem bíblica, afirmando que o presidente dos centristas e vice-primeiro-ministro é um “Matusalém irrequieto da democracia portuguesa”, pela longevidade da sua permanência na política partidária, caracterizada também uma “capacidade imaginativa” que disse fazer lembrar Adelino Amaro da Costa.

Marcelo descreveu a “viragem doutrinária estratégica lenta” que Portas conduziu no CDS, “para uma posição de compromisso”, de regresso ao europeísmo, ao centro do espetro político e a um partido de governação.

Nesse percurso, Portas mostrou também ser um “populista contido”, dando “guinadas populistas” que absorviam um radicalismo de direita, ao mesmo tempo que travava para dar ao CDS uma dimensão de poder, num percurso em que o partido permaneceu mais conservador nas bases do que na direção, fez uma renovação etária e apostou nas mulheres.