Passos Coelho não está fisicamente no plenário na Assembleia da República, mas a polémica em torno do primeiro-ministro dominou o debate desta quarta-feira à tarde. PS e PSD embrulharam-se em acusações. Resultado: a oposição insiste em esclarecimentos do chefe de Governo. PSD e CDS defendem-no. PSD diz que Passos tem uma “liderança firme e honesta” e o CDS diz que “confia na palavra do primeiro-ministro” e que o PS fez uma “insinuação sonsa”. Mas nos corredores, o clima é diferente, dominam o silêncio e os sorrisos preocupados.

Tudo começou com a intervenção do deputado José Junqueiro, do PS, que lembrou que “o primeiro-ministro, pelos motivos conhecidos, introduziu na opinião pública a ideia de que se poderia ir embora. Nada pior para um Governo do que uma instabilidade ao mais alto nível. Nada pior para o país do que um Governo perdido na confusão dos seus dias”.

E na resposta, Luís Montenegro acusou o socialista de estar a enveredar pela “baixa política” levando para o debate “especulações que não têm fundamento até ver, bem pelo contrário”. Ainda na defesa da honra do primeiro-ministro, o social-democrata disse que “não está em causa nenhum cenário de fuga às responsabilidades do primeiro-ministro e do PSD” e que confia na “liderança firme e honesta” de Passos Coelho e por isso deixou a certeza: “Vamos cumprir a legislatura até ao fim”.

Mas se o líder da bancada deu a voz pela defesa do chefe do Governo, o clima é de desconforto na bancada social-democrata… e centrista. Os deputados dos dois partidos da maioria preferem não falar do caso e esperar para ver pelos esclarecimentos do primeiro-ministro.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Já o CDS disse “não comentar suspeições, notícias ou agressões”, mas não deixou de acusar o PS de fazer uma “insinuação sonsa”. Nas perguntas ao deputado socialista, o líder parlamentar do CDS rematou dizendo: “O CDS tem confiança na palavra do primeiro-ministro”.

Nas justificações, o deputado José Junqueiro insistiu que aquilo que fez foi “constatar uma realidade pública e desejar que o primeiro-ministro o mais rapidamente possível – porque também tem direito ao bom nome e até por isso – venha esclarecer essas dúvidas”. “Isto não é insinuação, nem acusação, é exigência da República”, rematou.

Também os partidos mais à esquerda defenderam que o primeiro-ministro deve esclarecer o quanto antes as suspeitas sobre o primeiro-ministro. Primeiro, o deputado do PCP, António Filipe, referiu que pediu à Comissão de Ética e à presidência da Assembleia da República para levantarem “a documentação relevante” sobre a situação do primeiro-ministro enquanto deputado. Mas, não deixou de dizer: “Em primeira linha, quem tem obrigação de esclarecer é o senhor primeiro-ministro. Tem de ser ele próprio a evitar estar numa situação de suspeição”, diz.

Já Cecília Honório, do Bloco de Esquerda, ironizou fazendo a relação com umas eventuais futuras desculpas do primeiro-ministro, com as desculpas pedidas pela ministro da Educação e pela ministra da Justiça: “Desculpem lá o mau jeito, mas afinal estava em regime de exclusividade”, disse.

A mesma linha foi seguida pelo deputado d’Os Verdes, José Luís Ferreira que lembrou que “a melhor forma de sacudir seria o primeiro-ministro fazer um esforço, puxar pela memória”.