Num artigo de balanço sobre a campanha das primárias do Partido Socialista, Francisco Assis admite-se preocupado com a “excessiva personalização do debate político” e, sobretudo, com algumas formas de angariação de simpatizantes.

“Se nalguns e muito respeitáveis casos isso resultou estritamente de atos de adesão individuais e espontâneos, noutros decorreu de uma prática de arregimentação não muito distanciada das tradicionais formas de recrutamento caciquista“, escreveu o ex-candidato à liderança e atual apoiante de António José Seguro no Público.

Assis admite que, por se tratar da primeira vez que se organizam primárias abertas, era expectável que o fenómeno ocorresse. Mas o que suscita “sérias preocupações” é a possibilidade de estarmos a assistir a “tentativas de reconstituição dos famigerados sindicatos de voto numa escala ainda maior do que a habitual“, concluiu.

Sobre os debates e os discursos da campanha, Francisco Assis alerta para o risco de uma excessiva personalização do debate político, que pode conduzir a uma “tribalização das correntes partidárias, com a subsequente degradação do confronto criativo das ideias e dos projetos”.

A proposta de abrir as primárias à sociedade partiu do próprio Francisco Assis, nas diretas contra Seguro em 2011. “Pareceu-me desde o primeiro momento uma boa ideia, ainda que não ignorasse nenhum dos perigos que continha”, escreve, antes de concluir que, apesar dos defeitos, “não há motivo para concluir por um juízo negativo” em relação à campanha que tem o desfecho este domingo, 28 de setembro.

“Ao reforçar a publicidade da contenda em curso, este mecanismo concorre para um aumento da visibilidade das qualidades e defeitos dos protagonistas e respetivos projetos políticos. Hoje os portugueses conhecem muito melhor as características de cada um dos candidatos”, e considera que nem Costa nem Seguro saem com pior imagem junto da opinião pública.

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