Os eurodeputados socialistas Carlos Zorrinho, Elisa Ferreira e Maria João Rodrigues não participaram na votação que aprovou o comissário finlandês, Jyrki Katainen, que vai ser vice-presidente para o Emprego e Crescimento, por a sua família política (o Partido Socialista Europeu) ter um sentido de voto favorável, mas os portugueses socialistas se oporem a esta nomeação devido a comentários do finlandês sobre Portugal.
A votação deste comissário foi pedida pelo grupo da Esquerda Unitária, e Marisa Matias, eurodeputada da Bloco de Esquerda – que integra esta família política – votou contra o finlandês. Após o anúncio da subida do salário mínimo em Portugal, em setembro, o porta-voz do finlandês disse ao Diário de Notícias que a Comissão ia avaliar a subida “temporária” para os 505 euros e o impacto que essa decisão do Governo português teria nas finanças públicas. Declarações essas que foram consideradas uma intrusão nos assuntos internos de Portugal, por parte da esquerda portuguesa.
Na audição, a eurodeputada socialista Elisa Ferreira já tinha criticado o ex-primeiro-ministro finlandês. “Tinha uma postura moralista, de que os pecadores deviam pagar pelos seus pecados. Foi o primeiro a pedir [garantias] colaterais aos Estados-membros em dificuldades, mesmo a Espanha, como pré-condição para qualquer empréstimo. Impôs um endurecimento da austeridade já por si dura prevista para Portugal, em troca da assistência financeira”, acusou.
“O ex-primeiro-ministro finlandês pediu colateral no bail out de Portugal e da Grécia, portanto em relação a solidariedade, estamos conversados. Para além disso não teve uma ideia concreta de aonde ir buscar os 300 mil milhões de euros do plano de Juncker para o crescimento, só deu respostas vagas” disse ao Observador Marisa Matias. A eurodeputada diz que o finlandês “responde ao ministro das Finanças alemão e não a Juncker”.
Uma noite de jogo de interesses
Esta noite no Parlamento Europeu decidiu-se o futuro da Comissão Juncker com a votação de seis comissários da nova equipa. Até agora, houve mais uma baixa na comissão com a recusa de Bratusek enquanto Cañete, o comissário espanhol, foi aceite, assim como Jonathan Hill, o britânico, Moscovici, o francês, e o finlandês. Os grupos políticos não se entenderam, especialmente as duas grandes famílias – o PPE, de centro-direita, e o PSE, de centro-esquerda – e disputaram nome a nome para que nenhuma fique a perder.
Cañete, comissário espanhol com a responsabilidade da Energia e que pertence ao PP de Rajoy, foi aceite pelo Parlamento Europeu – apesar das alegações de interesses próprios nos mercados de energia – e esta aceitação deve ser agora trocada pela aprovação de Moscovici, comissário francês que deverá assumir a pasta dos Assuntos Económicos. Já Jonathan Hill, um caso à parte, também passou dependendo a sua manutenção na equipa Juncker de ter ou não convencido o número suficiente de eurodeputados, mesmo depois da sua segunda audição, já que pertence ao grupo político dos conservadores.
As votações vão decorrer até às 21h de Bruxelas.