“Vamos lá ver a onde é que isto nos leva”. Foi assim que o Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, comentou as propostas de trabalho do recente Sínodo dos Bispos, numa conferência de imprensa organizada pelo Patriarcado de Lisboa no Mosteiro de São Vicente de Fora, na capital.
O sínodo extraordinário, realizado entre os dias 5 e 19 de outubro e convocado pelo Papa Francisco, teve como objetivo principal debruçar-se sobre “uma problemática universal” — a problemática familiar. Neste, foram abordados temas controversos, como a possibilidade de divorciados e recasados poderem voltar a comungar, e o acolhimento de homossexuais. Apesar do mediatismo que tem envolvido estas questões, depois da publicação da proposta de trabalho do sínodo (“relatio”), D. Manuel Clemente fez questão de frisar que ainda nada está decidido e que estas questões podem nem chegar a ser resolvidas.
Para D. Manuel Clemente, este sínodo, o terceiro extraordinário desde a realização do primeiro Sínodo dos Bispos nos anos 1960, vale principalmente pelo “ineditismo” da reflexão proposta, que envolveu “uma caminhada e uma amplitude de intervenientes que é inédita”. Ao longo de toda a conferência de imprensa, o Patriarca de Lisboa fez questão de frisar que o sínodo da família foi, acima de tudo, um apelo à reflexão das temáticas familiares e das questões a elas associadas. Para D. Manuel Clemente, o que importa reter é a forma como o Papa lançou essa reflexão, a acompanhou e continuará a acompanhar.
Essa reflexão, porém, ainda vai no início. “O caminho é longo e só terminará em outubro de 2015”, referiu o Patriarca, data em que acontecerá um outro sínodo, na sequência do qual o Papa dará a conhecer a sua posição final sobre estas questões.
Em relação aos divorciados, recasados e homossexuais, D. Manuel Clemente desdramatizou. Para o Patriarca, houve uma “ênfase exagerada” dada a essas problemáticas. “Vamos lá a ver a onde é que isto nos leva”, disse. “Não posso estar a prever neste momento — ninguém pode, nem o próprio Papa Francisco — onde é que nós estaremos nesta reflexão” em 2015, acrescentou. Contudo, o Patriarca de Lisboa fez questão de dizer que, apesar das votações não terem alcançado a maioria absoluta, são “positivas” e “muito significativas”.
D. Manuel Clemente referiu, ainda, que, após a divulgação do “relatio”, houve um recuo na posição dos bispos face às propostas. Esse recuo refletiu-se nas votações finais, referiu. Para o Patriarca, acima de tudo, as votações refletem uma clara valorização da família e da sua importância. Por outro lado, os votos da maioria relativa demonstram que estas questões devem ser encaradas e refletidas.