No livro “A Face Oculta de Fidel Castro”, Juan Reinaldo Sánchez afirma que em 1988 ouviu inadvertidamente através do circuito interno de vigilância e gravação o presidente cubano a autorizar a proteção temporária de um traficante sul-americano (“lanchero”) no país a troco de 75 mil dólares.

“Foi como o céu me caísse em cima. Aturdido, incrédulo, petrificado, queria acreditar que ouvira mal ou que estava a sonhar, mas, infelizmente, era a realidade. Em poucos segundos, todo o meu universo, todos os meus ideais caíram por terra”, escreve Juan Reinaldo Sánchez, que a partir desse momento viu desmoronar-se a imagem que tinha de Fidel Castro.

“Apercebi-me de que o homem por quem sacrificava a minha vida desde sempre, o Líder que venerava como a um deus e que, aos meus olhos, era mais importante do que a minha própria família, estava envolvido no tráfico de cocaína à maneira de um verdadeiro ‘padrinho’”, sublinha o antigo elemento da segurança privada de Fidel, que atualmente vive exilado em Miami, Estados Unidos.

Segundo o antigo guarda-costas, foi o acumular de suspeitas acerca de tráfico de droga promovido pelo próprio regime cubano, com ligações à Colômbia e ao Panamá, que levou Fidel Castro a acusar o general Ochoa, veterano da guerra civil angolana e herói da batalha do Cuíto Cuanavale contra as forças sul-africanas.

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Ochoa e mais dois oficiais foram condenados à morte e executados e o antigo ministro do Interior José Abrantes sentenciado a 20 anos de cadeia, morrendo misteriosamente na prisão porque era preciso fazer parar notícias que teriam arruinado a reputação de Fidel Castro, segundo o autor do livro.

Sánchez sublinha que com a morte de Ochoa e Abrantes, a cadeia de comando foi para sempre cortada, desaparecendo toda a “ligação orgânica” suscetível de relacionar Fidel Castro ao “tenebroso esquema” de tráfico.

“É evidente que me chocou o facto de Ochoa, um herói da Revolução Cubana, se ter entregado ao tráfico de droga. Mas que podia ele fazer quando era o próprio chefe de Estado que se encontrava na origem de um tal esquema, do mesmo modo que presidia às outras operações de contrabando – tabaco, eletrodomésticos, marfim, etc.? E tudo isso, claro, para bem da Revolução!”, relata o antigo guarda-costas.

O esquema de negócios escuros estava assente, segundo Sánchez, no Departamento Moeda Conversível (MC), apelidado pela população como Departamento “Marijuana e Cocaína”, criado em 1986 e que dependia do ministro Abrantes e para onde operava Ochoa.

A atividade do Departamento MC era explicada no jornal oficial Granma como um organismo que servia para “romper o bloqueio” através da comercialização de todos os produtos desde tabaco, lagosta e charutos introduzidos como contrabando nos Estados Unidos até diamantes e marfim vindos de África e vendidos em todo o mundo, utilizando dólares como moeda de troca.

“Para ele (Fidel Castro), mais do que uma forma de enriquecimento, o narcotráfico era uma arma de luta revolucionária. O seu raciocínio era simples: se os ‘ianques’ eram estúpidos ao ponto de consumir droga que vem da Colômbia, não seria ele a preocupar-se com isso e, por outro lado, tal servia os seus objetivos revolucionários” (página 210) escreve Sánchez no livro de memórias.

Entre outros testemunhos, Sánchez recorda que chegou a conduzir Fidel Castro a um hangar do aeroporto de Varadero onde o presidente inspecionou o suposto carregamento de “pó branco” prestes a ser expelido para a Flórida, dissimulado em caixas de rum e tabaco.