Em 2013, o Ministério Público de Viena acusou nove funcionários do Banco Central Austríaco (incluindo o antigo vice-governador, Wolfgang Duchatczek) de suborno. A acusação dizia respeito a crimes cometidos entre 2005 e 2011 e permitiu um “raro vislumbre” sobre a indústria de impressão de dinheiro, muitas vezes envolta em mistério.

Em dezembro de 2005, funcionários do Banco Central Austríaco carregaram cerca de 30 milhões de notas azerbaijanesas em vários camiões de 38 toneladas. Escoltados pela polícia, os camiões atravessaram o país até ao aeroporto de Bratislava, na Eslováquia. Neste local, as paletes de notas foram colocadas num avião com destino à cidade de Baku, capital do Azerbaijão.

Apesar de parecer uma qualquer operação do mercado internacional de impressão de dinheiro, a transação fazia parte de um acordo corrupto entre funcionários do Banco Central Austríaco e os seus homónimos no banco do Azerbaijão, refere a Bloomberg.

O caso tornou-se público em 2013, data em que o Ministério Público de Viena acusou nove funcionários do Banco Central. Após uma investigação de 18 meses, os réus foram acusados de terem formado uma organização criminosa em torno da empresa responsável pela impressão de notas para os Bancos Centrais da Síria e Azerbaijão, a Oesterreichische Banknoten-und Sicherheitsdruck GmbH ou OEBS. De acordo com o Ministério Público, Duchatczek e os outros acusados cometeram crimes de abuso de confiança, corrupção, lavagem de dinheiro, entre outros.

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Segundo os promotores austríacos, os funcionários do banco austríaco elevaram o preço da moeda para que o excedente pudesse ser usado em subornos para conseguir contratos de impressão. Um total de 14 milhões de euros foi pago entre 2005 e 2011 a funcionários do banco do Azerbaijão através de contas offshore e, mais tarde, a trabalhadores do Banco Central Sírio.

 

Um negócio que vale milhões

Segundo a Bloomberg, por ano são produzidas cerca de 165 mil toneladas de moedas por agências governamentais e privadas. O negócio de impressão de dinheiro, altamente técnico, é muito superior à capacidade dos próprios países, o que leva a que muitos governos recorram a empresas privadas, que produzem cerca de metade das notas do mundo.

Existem três empresas principais que dominam o mercado e que correspondem a cerca de 60% das vendas — a De La Rue PLC (DLAR), sediada em Inglaterra e que imprime a libra esterlina, a alemã Giesecke & Devrient GmbH e a francesa Arjowiggins SAS.

De acordo com um relatório de 2011, publicado pela consultoria Impacts.Ca, a indústria vale cerca de 1,3 mil milhões de dólares (cerca de mil milhões de euros). Apesar de ser uma empresa menor, a OEBS faz 600 milhões de notas por ano para a Áustria e para os países vizinhos da zona Euro. A empresa imprime também dinheiro para os bancos centrais de países em África.