Seriam 150 florins por cada gigabyte de dados. Perto de 48 cêntimos de euro. Agora imaginem uma família numerosa, com portáteis no colo e smartphones em punho. A 22 de outubro, Viktor Orbán, primeiro-ministro húngaro, anunciara um projeto-lei para taxar a utilização de internet no país. A população não gostou. E mostrou-o. No último domingo e na terça-feira, milhares de pessoas juntaram-se nas ruas em protesto contra a medida e Orbán recuou — a proposta ficará na gaveta. Pelo menos por agora.

E o Governo húngaro ainda tentou alterar a proposta e amenizar o descontentamento da população. Após a primeira vaga de protestos, Orbán anunciou que, ao invés, pretendia taxar a utilização de internet mensalmente, cobrando um imposto fixo por família. Mas as manifestações não cessaram. “O problema não é as pessoas estarem contra a medida, mas o facto de questionarem a sua racionalidade. Nada pode ser introduzido se o povo questiona a racionalidade”, explicou o líder, ao falar com a MRI, uma estação de rádio do país.

Orbán sublinhou que o Governo húngaro “não é comunista” e Governo “para o povo”, não “contra ele”. Caso o projeto-lei fosse aprovado, estava previsto que entrasse em vigor a 1 de janeiro de 2015. O primeiro-ministro, embora retirando a proposta, ressalvou que, durante o próximo ano, o Governo voltará a estudar a sua aplicação. E ver talvez se a população reage da mesma maneira.

Na terça-feira, em Budapeste, capital do país, dezenas de milhar de pessoas juntaram-se nas ruas em protesto contra a proposta do Governo. A manifestação, conta o The Economist, foi sobretudo pacífica: as pessoas pegavam nos telemóveis/smartphones e erguiam-nos com a mão, diante da sede do Fidesz, partido de Viktor Orbán. Alguns indivíduos, porém, chegaram a lançar ecrãs e velhos modelos de computadores contra o edifício.

No mesmo dia, a Comissão Europeia (CE) criticou o projeto-lei para taxar a utilização da internet — e aproveitou para sublinhar o tipo de atuação de Orbán. “O método que o Governo húngaro tende a usar em impostos é anunciar uma versão muito, muito dura de um imposto ou lei e esperar pela reação inicial, que costuma ser muito negativa. Depois vão poli-la um pouco de modo a parecer que estão a ser moderados”, desenhou Ryan Heath, porta-voz da comissão para a área digital, ao EU Observer.

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