Um fragmento do Muro de Berlim está desde 1994 no Santuário de Fátima, um “símbolo da paz” oferecido por um emigrante português radicado na Alemanha, país que se reunificou quando a estrutura foi derrubada há 25 anos.
“É, sem dúvida, um símbolo de paz, é uma grande bandeira que aqui aparece erguida e que na desfragmentação consegue ser mais forte do que aquilo que era quando estava fragmentado”, disse à agência Lusa o diretor do Serviço de Estudos e Difusão do Santuário de Fátima, Marco Daniel Duarte.
O responsável explicou que há blocos do muro em “vários lugares do mundo e nalguns sítios muito especiais dedicados à paz”.
“Estamos na Cova da Iria, a cova da paz, num lugar onde a mensagem é, nitidamente, de paz”, afirmou, apontando os acontecimentos de Fátima, em 1917, quando a Europa vivia a I Guerra Mundial.
Para Marco Daniel Duarte, o fragmento “é uma parte de um muro enorme que não dividiu apenas as duas Alemanhas, mas dividiu todo o mundo”, durante a Guerra Fria.
“O mundo contemporâneo está figurado naquele muro”, considerou o responsável, referindo que ao colocar em destaque a peça, o santuário assume que “está relacionada, não só com a história político-ideológica do mundo contemporâneo, mas que a mensagem cristã está integrada nessa história”, assim como “a própria mensagem de Fátima”.
O responsável remete ainda para uma frase do papa João Paulo II que, em maio de 1991, ano e meio após a queda do muro e na sua segunda peregrinação a Fátima, agradeceu à Virgem ter guiado “os povos para a liberdade”, inscrição que está junto ao monumento.
Em Fátima, são muitos os peregrinos que param para tirar fotografias ao bloco, cujo derrube, a 09 de novembro de 1989, significou para o alemão Jürgen Dietz, de 57 anos, “uma Alemanha”.
Recordando o “dia feliz” para todos os alemães que foi aquela data, o peregrino destacou igualmente a “liberdade” que significou para Berlim Oriental.
Junto ao bloco do muro que viu erguido, em Berlim, em 1985, a holandesa Ineke van Deput, de 56 anos, lembrou as memórias dessa viagem.
“Vimos uma cidade no lado oeste que era muito bonita, muito vibrante e era muito doloroso visitar o muro porque havia locais onde podiam subir-se escadas e ver sobre o muro”, contou à Lusa, explicando que daí se via outra cidade, com “poucas pessoas nas ruas” que, ao acenarem, “eram afastadas pela polícia”.
E, quando foi ao outro lado, trouxe na bagagem a imagem de uma cidade “assustadora”.
“Passámos pelo ‘Checkpoint Charlie’ com o nosso carro e visitámos Berlim leste por um dia e foi terrível. Não havia nada nas lojas, tudo era cinzento, não havia restaurantes, não havia vida na rua, nada”, referiu.
Em 2010, Ineke van Deput regressou a Berlim, agora reunificada.
“Do lado leste, havia ‘Starbucks’, havia tudo, pessoas nas esplanadas a beber café, artistas na rua”, exemplificou, realçando que toda a cidade tinha passado por “uma grande, grande mudança”.
Quanto à queda do muro, a peregrina não tem dúvidas de que foi um dia importante para o mundo.
“Eu tinha esperança de que tornaria o mundo um pouco melhor, mas isso foi há 25 anos. Depois disso, muita coisa aconteceu”, comentou.
O Muro de Berlim começou a ser construído na noite de 12 para 13 de agosto de 1961, tendo sido demolido a 09 de novembro de 1989.
O fragmento que se encontra em Fátima, com 2.600 quilos, 3,60 metros de altura e 1,20 metros de largura, chegou ao santuário a 05 de março de 1991. Foi inaugurado junto da entrada nascente do recinto a 13 de agosto de 1994, 33 anos depois do início da construção do Muro de Berlim.