Um autocarro é grande. Veículo pesado, lento e que ocupa espaço. Se o condutor o quiser estacionar e tiver jeitinho, consegue, com ele, tapar todas as faixas de rodagem. E dar a volta a isto não é fácil. Nem agradável de se ver. Talvez por isso ou por não ter uma garagem espaçosa, Paulo Fonseca não gosta disto: “Não vamos apresentar qualquer tipo de autocarro, como não fizemos nos jogos com os outros grandes.” O adepto, qualquer um, agradece. O Sporting nem por isso.

Sporting: Rui Patrício; Cédric Soares, Paulo Olivera, Naby Sarr e Jefferson; William Carvalho, Adrien Silva e João Mário; André Carrillo, Nani e Islam Slimani

Paços de Ferreira: Rafael Defendi; Jailson, Rafael, Ricardo e Hélder Lopes; Sérgio Oliveira, Jean Seri e Minhoca; Urreta, Paolo Hurtado e Bruno Moreira.

Porque o visitante não fez cerimónia. Nenhuma. Mais do que ser atrevido, o Paços aparecia em Alvalade calmo. Tranquilo e ciente do que pretendia fazer. Os 25 minutos iniciais mostraram-no. Os que vestiam de amarelo estavam confiantes. Não se viam pontapés na bola, à toa, para a frente, nem os jogadores encolhidos a defender. O que se via era um Paços a jogar até com o guarda-redes, a sair da área com passes curtos, a insistir em tabelas lá atrás e até a trazer de casa jogadas combinadas para quando o jogo lhe desse uma bola parada no ataque.

Os leões, aos 6’, até viram sair do pé direito de João Mário, à entrada da área, uma bola que Rodrigo Defendi desviou para canto. E o guardião brasileiro do Paços só voltaria a defender um remate meia hora depois. Pelo meio, os leões passavam muito tempo com a bola. Sim. Adrien preocupava-se em fazê-la chegar à frente, enquanto William, algo lento, a rodava só de um lado para o outro. Nani e Carrillo tocavam-lhe várias vezes, mas os adversários pressionavam, tinham pressa em recuperar a bola, e assim que o Sporting tentava acelerar uma jogada, os homens do Paços obrigavam-nos a errar.

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A equipa de Paulo Fonseca jogava bem. Sérgio Oliveira, a servir de trinco, garantia que, atrás, não se erravam passes. E no capitão da seleção sub-21 via-se um líder, a esbracejar, falar e dar ordens para garantir que a equipa jogava ao primeiro toque quando era preciso evadir a pressão que o Sporting fazia na metade do campo do Paços. Depois, Minhoca, Urreta e Hurtado, estes três, iam trocando de posições no ataque. E tentando fazer uma coisa — dois deles fixavam-se mais junto de Paulo Oliveira e Naby Sarr, os centrais leoninos, para que o outro tivesse espaço para fugir.
O plano resultava. A defesa verde e branca não se desmontava, mas tremia.

E ruía aos 32’, quando Minhoca fugiu de Sarr, recebeu uma bola à sua frente, captou a atenção do central e deixou que Hurtado, nas costas, arrancasse para receber um passe e, dentro da área, rematasse para bater Rui Patrício. Golo e 1-0. Não havia autocarro em Alvalade e o que se via eram motas amarelas, ágeis, a trocarem rápido a bola e a optarem por fazer coisas fáceis e simples.

E o Sporting era surpreendido. Este Paços, afinal, parecia fazer-lhe mais frente do que o Schalke 04 fizera, a meio da semana, para a Champions. Antes do golo até se viam os leões a espreitarem o contra-ataque entre o tempo que os de amarelo tinham a bola. Depois, porém, as coisas começaram a mudar. Aos 36’, depois de trocar quase 20 passes, uma jogada do Sporting acabou com Jefferson a tabelar com Slimani, mas o brasileiro aproximou-se em demasia de Defendi e perdeu espaço para desviar a bola do guarda-redes. Com 42 minutos, um cruzamento acabou na cabeça de Carrillo, mas Sarr e Slimani, achando que estavam em fora de jogo, não foram à bola. Dois minutos depois, o peruano enganou Minhoca, simulou um passe, arrancou para a área, mas o cruzamento que tirou deixou que Defendi agarrase a bola.

As câmaras filmavam Marco Silva e não se adivinhava coisa boa. O treinador estava sério, carrancudo e chateado. Tê-lo-á mostrado ao intervalo, aos ouvidos dos jogadores, porque a segunda parte transformou o Sporting. Primeiro, nos nomes — saíram William e Carrillo para entrarem Carlos Mané e Fredy Montero. Era preciso arriscar. Afinal, o Paços, na tabela, tinha mais um ponto que os leões (17 contra 16), que pela primeira vez esta época, iam descansar para o balneário a perderem em casa, para o campeonato. Com ou sem autocarro, não podia ser. Algo tinha de mudar.

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Mudou mesmo. Os jogadores do Sporting passaram a acelerar mais as coisas. Davam menos toques na bola e os passes saiam com mais força, mais rápidos. Depressa e bem, era assim que a equipa parecia querer fazer as coisas. E depressa apareceu o golo, quando Fredy Montero fugiu de Slimani, recuou, pediu a bola e, a uns 30 metros da baliza, resolveu rematar logo dali. Saiu bomba e entrou o empate. 1-1 e segundo jogo seguido do colombiano a marcar (um golaço) em Alvalade, para a liga.

O fruto caía da árvore e o Sporting continuou a abaná-la. Os leões continuaram a jogar com a quinta mudança engatada e os ataques que se chegavam à área do Paço sucediam-se. Os de amarelo acompanharam o ritmo e também foram acelerando, mas a bola já não passava tanto tempo nos seus pés, porque os leões atiravam agora mais homens para a pressão defensiva. Hurtado, aos 57’, ainda disparou um remate, de fora da área, que passou perto da baliza de Patrício. Mas o perigo, pintado de amarelo, terminaria aqui.

Já depois de um livre, batido na quina da área por Nani, obrigar Defendi a parar a bola com dificuldade, aos 69’, o Paços passou a jogar com dez jogadores. Culpa de Sérgio Oliveira, que aos 75’ fez uma falta, levou com o segundo cartão amarelo e disse adeus ao relvado. Marco Silva não demorou a agir. Capel entrava aos 78’, por troca com Cédric, e levou na mão um papel que Paulo Oliveira e Mané tiveram que ler. Mais coisas mudavam: o extremo passava a lateral direito, com ordem para fugir para a área quando desse a bola ao extremo que estivesse à sua frente. E começava aqui o desperdício.

Primeiro por Capel, que segundos depois de pisar o relvado chutou para fora uma recarga ao livre de Nani. Depois de Montero, o colombiano que, à entrada da área, fingiu um remate, sentou dois adversários, mas, quando sacou o pontapé, a bola saiu rasteira e às mãos de Defendi. Aos 87’ o avançado marcaria, mas Slimani não deixou que contasse: o argelino, que estava em fora de jogo, também se fez à bola e, aos olhos do árbitro, terá estragado tudo, embora as regras da FIFA ditem que tal só é infração caso Slimani tivesse, de facto, tocado na bola. Ele que, logo depois, com o pé esquerdo e a cabeça, não acertaria na baliza após Capel, primeiro, e Mané, depois, lhe cruzarem duas bolas que clamavam por um golo.

Agora sim, havia autocarro. Amarelo e tudo. O Sporting, com cruzamentos atrás de cruzamentos, não parava de atacar desde a expulsão de Sérgio Oliveira. E o Paços encolhia-se, na esperança de sair com um ponto de Alvalade. Saiu mesmo. O empate, o quinto do Sporting no campeonato, o terceiro em casa (FC Porto e Belenenses). Agora, com este 1-1, os leões ficam com 17 pontos e passarão mais duas semanas — a próxima é reservada aos jogos das seleções — no sétimo lugar (o próximo jogo é em Setúbal, a 28 de novembro). O Paços, esse, continuará no sexto lugar, à frente dos leões, e com um treinador que, a treinar esta equipa, continua sem saber o que é perder contra o Sporting, no campeonato. Com ou sem autocarro.