O antigo presidente da República Jorge Sampaio mostrou-se esta quarta-feira honrado por receber um doutoramento “honoris causa” em Direito pela universidade britânica King’s College London, o qual atribuiu ao seu “percurso multifacetado”.
“É uma honra, confesso”, disse à agência Lusa, acrescentando: “Posso auto-contemplar-me e dizer que tem talvez a ver com o percurso multifacetado, em várias frentes: culturais, políticas, associativas, jurídicas”.
Em todas estas, vincou, manteve “um denominador comum: uma fidelidade a um conjunto de princípios. Houve evoluções, naturalmente – hoje sou mais moderado do que há 30 anos, é natural, mas mantenho-me atento, mantenho-me preocupado com o futuro no sentido em que é preciso que o civismo e a luta pelos valores continuem”.
O diploma honorífico foi atribuído ao “distinto advogado, diplomata e dirigente político” Jorge Sampaio numa cerimónia em Londres onde outras cinco personalidades foram também reconhecidas.
Durante a apresentação, a vice-reitora, Evelyn Welch, referiu o passado de líder estudantil durante a ditadura e na luta pela restauração da democracia, o que aconteceu graças à revolução de 25 de abril de 1974.
“Nos anos 1960 e 1970, Jorge Sampaio mostrou grande coragem moral ao levar muitos casos aos tribunais políticos da ditadura, defendendo prisioneiros políticos e expondo os abusos da polícia política. Ele defendeu, sempre sem cobrar honorários, todas as vítimas da repressão do regime, independentemente dos riscos para a sua carreira ou das crenças religiosas ou da filiação política dos seus clientes: eram estudantes e soldados, católicos e comunistas, social democratas e maoistas, sindicalistas e poetas”, afirmou.
Do percurso profissional e político de Sampaio, foram destacadas as funções na Comissão de Direitos Humanos do Conselho da Europa (1979-1984), de deputado (1979-1991) e de presidente da Câmara Municipal de Lisboa (1991-1996), que antecederam às de Presidente da República (1996-2006).
“Como presidente, Sampaio fez bastante para comunicar uma imagem de um Portugal democrático e moderno e esforçou-se pelo seu reconhecimento internacional. Apoiou ativamente o alargamento da União Europeia para incluir os países da Europa Central e de Leste, os Balcãs e a Turquia. Promoveu as relações da Europa com os EUA, acompanhou a transferência da soberania de Macau para a China e apoiou a independência de Timor Leste”, salientou Welch.
Foram ainda salientado o desempenho noutros cargos, como de Alto Representante da ONU para a Aliança das Civilizações (2007-2013), de Especial Enviado do secretário-geral da ONU para a Luta contra a Tuberculose (2006-12) e de membro da Comissão Global sobre as Políticas para as Drogas, bem como o lançamento em 2013 da Plataforma Global para os Estudantes Sírios.
Entre muitas condecorações e prémios estrangeiros, Jorge Sampaio recebeu das autoridades britânicas a Grã-Cruz da Ordem de São Miguel e São Jorge, esta aquando da visita oficial ao Reino Unido em 2002, e a Real Ordem Vitoriana.
King’s College London, fundada em 1829, é considerada a terceira mais antiga universidade britânica e uma das instituições de ensino com mais longas relações académicas com Portugal, datando de 1919 a criação de uma Cátedra de Estudos Portugueses – ocupada por, entre outros, Charles Boxer e Helder Macedo.
Foi Macedo, juntamente com a historiadora e antiga diretora do Centro Camões de Estudos em Língua e Cultura Portuguesa Luísa Pinto Teixeira que propuseram o nome de Jorge Sampaio para o doutoramento “honoris causa”.
Além do antigo Presidente português, receberam doutoramentos “honoris causa” hoje o historiador Christopher Bayly, o biofísico e prémio Nobel da Química Michael Levitt, o biólogo Timothy Aitchison, a jurista Navanethem Pillay e o imunologista Paul Rothman.