Há três semanas, a UNESCO considerou “exemplar” a candidatura do cante alentejano a Património Cultural Imaterial da Humanidade. Esta segunda-feira começam as reuniões finais, na sede da UNESCO em Paris, com a votação da candidatura portuguesa prevista para quarta ou quinta-feira. Qualquer que seja a decisão, “o cante já ganhou”.

“O cante já ganhou muito neste processo. Nunca foi tão falado como hoje em dia, verificou-se a reativação de muitos grupos corais com pouca ou nenhuma atividade e também surgiram muitos grupos corais jovens no Alentejo”. Para o presidente da Câmara Municipal de Serpa, Tomé Pires, só o processo de candidatura já é “um ganho muito grande”, disse esta segunda-feira, por telefone, ao Observador, a partir do autocarro que transporta a comitiva portuguesa até Paris.

Paulo Lima, o responsável pelo processo, já está na sala onde tudo se vai decidir. Os representantes da Câmara de Serpa, da Casa do Cante, da Confraria do Cante Alentejano, da Casa do Alentejo, do INATEL e do grupo coral da Casa do Povo de Serpa (que vai cantar por breves minutos na apresentação da UNESCO) seguiram de autocarro até Paris e, esta manhã, ainda estavam a 100 quilómetros da capital francesa. O ambiente que se vive é bom. “As expectativas são altas, tendo em conta como tem corrido o processo da candidatura, desde que foi entregue em Lisboa até à última notícia [28 de outubro deste ano] de que era exemplar, a par de outras quatro de todo o mundo”, contou Tomé Pires.

A candidatura do cante alentejano a Património Cultural Imaterial da Humanidade deu formalmente entrada a 28 de março de 2013 no comité internacional da UNESCO. A confiança foi aumentando e, chegados a este ponto, todos se mostram “ansiosos no último sprint desta longa maratona”.

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A 27 de novembro de 2011, o fado cantou vitória na eleição a Património Cultural Imaterial da Humanidade e abriram-se portas. Não é o prestígio pelo prestígio que está em jogo. “Em primeiro lugar há o reconhecimento, não de Serpa, mas da região do Alentejo e até do país”, explicou o presidente da Câmara de Serpa. Reconhecimento também “das pessoas que cantam, que souberam receber uma herança, tratá-la bem e em condições de a transmitir, sem lucro, mas apenas por gosto. Ver esse trabalho que é feito de forma voluntária é o maior ganho que podemos ter”.

De forma mais prática, a chancela da UNESCO ao cante alentejano “abrirá muitas portas”. Ao objetivo de salvaguardar e transmitir o cante, é preciso também “começar a pensar em tornar este ativo cultural numa ativo económico, para ajudar a sustentabilidade do cante e o desenvolvimento da nossa região”, disse.

A decisão da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura está marcada para quinta-feira, mas a comitiva vai pedir a antecipação para quarta-feira à tarde por questões de logística. “Assim que soubermos a data certa da decisão, há uma iniciativa a ser preparada em Serpa, na Casa do Cante”, adiantou Tomé Pires. Habitantes, cantadores de grupos corais locais e todos aqueles que estiverem interessados vão poder acompanhar em direto os trabalhos, quem sabe com direito a festa no fim. Com o cante alentejano como banda sonora.